sábado, abril 29, 2006
the rest is silence
Sorriste somente e nada mais. Aproximaste-te devagar, com certezas absolutas em cada passo. Deixaste-te ficar ali até ao incómodo. Meu, que para ti tudo pareceu natural. Tentei falar, embora só quisesse disfarçar o embaraço. Não deixaste. Decidiste dançar comigo. Era tarde e a minha única decisão foi seguir as tuas. A dança teve as devidas sequelas. Guiaste o tempo todo, decidindo que música deveria ser escutada. Não quiseste saber nada, pormenores, passados, nomes, acasos, causas ou efeitos. Escolheste onde seria. E segui-te em tudo excepto no acordar. Sorri - como tu na noite anterior - quando percebi que desapareceras. Duvido que te volte a ver. Mas, se acontecer como nos filmes, quando - daqui a muito tempo - passar porventura de carro e te vir numa margem da rua, tenho a certeza que chamarei por ti e o nome será "Silêncio". LFB
Inveja de quem conheceu a GLICÍNIA QUARTIN
"Não sei do que gosto mais, se de ouvir o que pensa (que não pára de pensar), se de a ouvir contar tanta vida que viveu (que não sabe estar parada sem viver), se de a ver brincar (que a vida para ela tem de ser festa). Gosto de a ver representar: pensa, mexe-se, brinca, imagina e enquanto representa conta coisas que conhece do que viu nos outros. Conversa, de facto (?não achas??, ?lembras-te??, ?e tu??, ?quero perguntar-te uma coisa?), curiosa de mim, de ti, de todos os outros e de todas as coisas, firme no que decide e a querer saber o que o outro quer, sempre a pedir esse ?tu?. Inventa-se e inventa espaço. Transporta a alegria. Sem peso. Sempre em movimento. Porque vive em sedução. E porque ama como ninguém a sua e a minha e a tua e a nossa liberdade. Há mais actriz? Há mais pessoa? Melhor amiga?"
Luís Miguel Cintra
Luís Miguel Cintra
Inveja da minha avó
Que fez 86 anos no dia 25 de Abril, que eu já não via há quase um ano, que me viu chegar de surpresa com flores silvestres e que depois da emoção, breve, diz: "Lá naquela crónica que tens no jornal, dizes mal de toda a gente, mas"... E nesta altura eu penso que vem lá uma reclamação contra uma leviandade, uma prosa imoral ou um insulto gratuito. Não. O que a minha avó Cândida faz é um pedido. "Não te importas de aproveitar para dizer mal da Teresa Guilherme e da Júlia Pinheiro, que são umas vacas?". Tem 86 anos e a palavra vacas sai-lhe dos lábios finos com um frasquinho de cicuta na cabeceira dum imperador romano.
A minha avó está num lar há um ano, na aldeia onde nasceu. Já não pode escolher sozinha o canal de televisão, sujeita ao gosto da maioria. Então virou a cadeira de costas para as Teresas e Júlias que outros moradores da casa consomem, renúncia expressa à democracia das audiências. E, num ano, leu quase tudo do Camilo. Agora, não vá o coração sobressaltar-se, escolheu a prosa mais aveludada da série Brumas de Avalon.
Invejo-lhe a magia lúcida dos 86 anos. Invejo-lhe a raiva juvenil contra o plástico da televisão e a incapacidade de calar e comer. Invejo-lhe o tempo e, mais que tudo, a vontade de ler, com a certeza de que aos 86 anos ainda há bibliotecas inteiras que se podem descobrir.
Só não lhe invejo aquele neto que quase não aparece, é uma vez por ano apenas, ou ainda menos, esse neto não lho invejo. Aliás, vou mesmo odiá-lo se ele afinal não cumprir a promessa: escrever uma carta de muitas páginas, com sumo bastante para ser lida e relida e que, agora a sério, comece assim: querida avó Cândida. TR
A minha avó está num lar há um ano, na aldeia onde nasceu. Já não pode escolher sozinha o canal de televisão, sujeita ao gosto da maioria. Então virou a cadeira de costas para as Teresas e Júlias que outros moradores da casa consomem, renúncia expressa à democracia das audiências. E, num ano, leu quase tudo do Camilo. Agora, não vá o coração sobressaltar-se, escolheu a prosa mais aveludada da série Brumas de Avalon.
Invejo-lhe a magia lúcida dos 86 anos. Invejo-lhe a raiva juvenil contra o plástico da televisão e a incapacidade de calar e comer. Invejo-lhe o tempo e, mais que tudo, a vontade de ler, com a certeza de que aos 86 anos ainda há bibliotecas inteiras que se podem descobrir.
Só não lhe invejo aquele neto que quase não aparece, é uma vez por ano apenas, ou ainda menos, esse neto não lho invejo. Aliás, vou mesmo odiá-lo se ele afinal não cumprir a promessa: escrever uma carta de muitas páginas, com sumo bastante para ser lida e relida e que, agora a sério, comece assim: querida avó Cândida. TR
a música e a ironia - 13
O som está tão alto e a pista tão vibrante, a meio da noite naquela discoteca, que ele apenas finge ouvir o que a miúda gira que acabou de conhecer lhe tenta dizer, aos berros. Curiosamente, o tema escolhido neste momento pelo DJ é "Enjoy the Silence", Depeche Mode. LFB
sexta-feira, abril 28, 2006
Não é fácil dizer bem
«Comecei ontem a ler Não é fácil dizer bem - críticas, obsessões e outras ficções (Tinta-da-China), e acho que o João Pedro George está mais gordo.»
Retirado daqui.
Hoje há uma festa
Entre 25 de Abril e 1 de Maio calha sempre bem uma festa. Uma festarola onde o povo trabalhador e oprimido faz uma pausa na jornada de luta para fazer sapateado ao som dos êxitos da revolução.
Os Quase Famosos, essa trupe de DJ's demagógicos, providenciam o momento de relaxo e recreio.
É já hoje, 28 de Abril, na danceteria Frágil.
a música e a ironia - 12
"J'aime la vie", de Sandra Kim, canção vencedora de um Festival da Eurovisão, estava gravada 12 vezes seguidas na K7 que o agente funerário insistia em passar no rádio do seu velhíssimo Fiat 127. A propósito, a Sandra já esticou o pernil. LFB
revisões para o desejo
Aos poucos, a blogosfera masculinizou-se: de verborreica passou às poucas palavras, resultando num empate técnico entre dizer o essencial ou limitar-se a despejar o óbvio. Deixou de ser o clube exclusivo intelectual-chic e desenrolou-se em círculos e círculos de pequenos grupos que, sei hoje, vão de adolescentes à beira do suicídio a frentes de juízes discutindo o que seja ou não constitucional ou inconstitucional. O exercício solitário da escrita não consegue deixar de ser uma coisa de matilhas. E isso aborrece.
Depois, templates como este tornaram-se obsoletos e já quase não há quem pesque uns mínimos olímpicos em html para retocar e individualizar a página adquirida no shopping do blogger.
A coluna de links ao lado está cheia de defuntos.
Serve isto para começar e perceber o que, de superficial, mudou. Porque falar do dentro e do fora de cada um destes escribas tomaria horas e infringiria as regras contemporâneas da limitação de palavras.
Olá, Clara e Luís Jaime e Camilo e Filipa! Ricardos e Nuno e Tiago e Luís e Inês e Miguel e Bernardo e Hugo! Que sorte isto não ser uma reunião de antigos alunos e termos de ver barrigas e carecas e namoradas e namorados troféu ou a lamentar? Tão mais higiénico.
E, por isso, tudo isto sabe bem. Regressar aqui, voltar a jogar em equipa, materialmente desencontrados da vizinhança, em acordo, de resto, com o desígnio formalizado no nome da casa. 13 mãos a escrever contra o silêncio de novo, em terreno neutro, à maneira de uma final da taça.
Bem vistas as coisas, é bem capaz de ser o primeiro recomeço da minha vida. Mas como sabemos, de antemão, a data e o local da morte, tudo se torna mais atraente e perverso. Uma ressurreição com os dias contados, com sabor muito existencialista.
A propósito, coisa que me ocorre agora, todos falam da morte de Cristo na sexta-feira santa, da ressurreição no domingo de páscoa. Mas quando voltou Ele a morrer? Em que dia subiu aos céus? Na quarta, na quinta? Um mês depois? No Verão?
É sempre tão difícil escrever as palavras para começar e acabar (deveriam existir mestrados nestas línguas, começadas e acabadas; não nas comparadas). Ficam estas duas:
E agora?
AB
Depois, templates como este tornaram-se obsoletos e já quase não há quem pesque uns mínimos olímpicos em html para retocar e individualizar a página adquirida no shopping do blogger.
A coluna de links ao lado está cheia de defuntos.
Serve isto para começar e perceber o que, de superficial, mudou. Porque falar do dentro e do fora de cada um destes escribas tomaria horas e infringiria as regras contemporâneas da limitação de palavras.
Olá, Clara e Luís Jaime e Camilo e Filipa! Ricardos e Nuno e Tiago e Luís e Inês e Miguel e Bernardo e Hugo! Que sorte isto não ser uma reunião de antigos alunos e termos de ver barrigas e carecas e namoradas e namorados troféu ou a lamentar? Tão mais higiénico.
E, por isso, tudo isto sabe bem. Regressar aqui, voltar a jogar em equipa, materialmente desencontrados da vizinhança, em acordo, de resto, com o desígnio formalizado no nome da casa. 13 mãos a escrever contra o silêncio de novo, em terreno neutro, à maneira de uma final da taça.
Bem vistas as coisas, é bem capaz de ser o primeiro recomeço da minha vida. Mas como sabemos, de antemão, a data e o local da morte, tudo se torna mais atraente e perverso. Uma ressurreição com os dias contados, com sabor muito existencialista.
A propósito, coisa que me ocorre agora, todos falam da morte de Cristo na sexta-feira santa, da ressurreição no domingo de páscoa. Mas quando voltou Ele a morrer? Em que dia subiu aos céus? Na quarta, na quinta? Um mês depois? No Verão?
É sempre tão difícil escrever as palavras para começar e acabar (deveriam existir mestrados nestas línguas, começadas e acabadas; não nas comparadas). Ficam estas duas:
E agora?
AB
a música e a ironia - 11
"Love what you do", dos Divine Comedy, era a canção favorita de Décio, há mais de 2 anos a viver às custas do subsídio de desemprego. LFB
Os blogues colectivos
Os blogues colectivos são um equívoco. Aliás, não existem blogues colectivos. Existem blogues habitados por famílias várias e onde só um cidadão paga as contas. No máximo dois. Os blogues colectivos ajudam o meu pessimismo em relação à natureza humana - à minha natureza humana, sobretudo. Os blogues colectivos são como aqueles trabalhos de grupo da escolinha em que um dava o litro e os outros passavam o dia a emborcar green sands no bar. (Ainda há pouco acabou um - onde, durante meses, com conforto e felicidade, morei. Escrevi, entusiasmado, umas coisitas e depois apaguei-me. Melancolicamente apaguei-me. Nem sequer tive a delicadeza de me despedir. Aqui fica o atrasado abraço a todos os acidentais). Nos blogues colectivos somos ainda mais preguiçosos, parasitas e presumidos. Afinal de contas, para que é que vamos ser geniais se há outros a serem geniais por nós? NCS
quinta-feira, abril 27, 2006
a música e a ironia - 10
"I'm only happy when it rains", dos Garbage, hoje à tarde - nas colunas do bar da praia. LFB
a música e a ironia - 9
"Utopia", Goldfrapp, como música final no encerramento de um Congresso do PP. LFB
a música e a ironia - 8
"Take me out", dos Franz Ferdinand, durante o "recreio", na rádio da prisão. LFB
Correr na floresta
O Nottingham Forest não conseguiu atingir os playoffs da League One e está agora num tristíssimo sétimo lugar, com os mesmos pontos do Swansea City. A tradição já não é o que era.
quarta-feira, abril 26, 2006
Retrato fiel de ida às compras com cônjuge
a música e a ironia - 7
Isto não é invenção. O motor do meu carro partiu-se, há 3 semanas, vinha eu de Óbidos para Lisboa. A 50 quilómetros da capital, empurrando o automóvel para uma margem da auto-estrada, tive o seguinte acompanhamento no rádio do dito, sintonizado na RFM: Coldplay, o tema "Fix you". LFB
a música e a ironia - 6
Ouvir "Play Dead", Bjork, nos auscultadores, durante o jogging da manhã. LFB
terça-feira, abril 25, 2006
aforismo do autoclismo (ou uma série que não deve ter sucesso)
A rotina diária é o que acontece inevitavelmente no intervalo entre duas paixões. LFB
a música e a ironia - 5
Partir uma perna, entrar na ambulância, e escutar no rádio "You should be dancing", dos Bee Gees. LFB
a música e a ironia - 4
Ouvir "Girls & Boys", dos Blur, no elevador de um lar de 3ª idade. LFB
O blog é kitsch
segunda-feira, abril 24, 2006
a música e a ironia - 3
"Good Vibrations", dos Beach Boys, a passar no rádio do patrão enquanto ele explica os motivos que o levam a dispensar os nossos serviços. LFB
a música e a ironia - 2
"Finally I've found that I belong here". Escutar "Home" dos Depeche Mode, no shuffle do i-pod, em plena sala de embarque de um aeroporto. LFB
Retorno
só se vive duas vezes
A ideia foi do Tiago que a propôs num almoço com o Bernardo e o Nuno:
ressuscitar o DC para matá-lo de vez pouco tempo depois. Cremos que o conceito é novo na blogolândia.
Todos os membros reagiram com entusiasmo e agora cá estamos, para divagar durante mais uns mesitos. A data do final anunciado é conhecida por nós mas vamos mantê-la em segredo.
O regresso tem duas finalidades: promover o livro com um "best-of" do blogue, de título homónimo, a lançar pela Verso da Kapa na próxima edição da Feira do Livro de Lisboa. O dia será anunciado muito em breve.
Por outro lado, tem a finalidade de recuperar o encantamento que tivemos todos por este nosso primeiro amor blogosférico. Afinal, se evitássemos voltar aonde já fomos felizes, um dia destes acabaríamos todos em Alverca.
Tem ainda o gozo suplementar de podermos reflectir sobre o que aconteceu em quase 3 anos de hiato. Houve quem mudasse de vida e de país, houve quem representasse Portugal em eventos internacionais, houve quem se tenha estreado na publicação, e há mesmo quem viva hoje da escrita (depois de se estrear nessas lides por aqui). Evidentemente, houve quem casasse ou esteja prestes a casar - como o retocado cabeçalho indica.
De resto, agrada-me constatar que a vida deste grupo de 13 melhorou para todos.
Enfim, regressamos. Foi criado um novo endereço de hotmail porque o anterior suicidou-se automaticamente devido a falta de uso. Mas, pelo menos para já, a lista de links fica como permaneceu desde o primeiro fim. Para mostrar como o mundo virtual é efémero e rápido.
Outras coisas se manterão iguais: continuamos avessos a caixas de comentários; querelas políticas e tricas da actualidade; e provavelmente ainda acrescentaremos mais casadoiros a este grupo já de si tão grande. Só para a castiçada e para irritar mais uns quantos. LFB
ressuscitar o DC para matá-lo de vez pouco tempo depois. Cremos que o conceito é novo na blogolândia.
Todos os membros reagiram com entusiasmo e agora cá estamos, para divagar durante mais uns mesitos. A data do final anunciado é conhecida por nós mas vamos mantê-la em segredo.
O regresso tem duas finalidades: promover o livro com um "best-of" do blogue, de título homónimo, a lançar pela Verso da Kapa na próxima edição da Feira do Livro de Lisboa. O dia será anunciado muito em breve.
Por outro lado, tem a finalidade de recuperar o encantamento que tivemos todos por este nosso primeiro amor blogosférico. Afinal, se evitássemos voltar aonde já fomos felizes, um dia destes acabaríamos todos em Alverca.
Tem ainda o gozo suplementar de podermos reflectir sobre o que aconteceu em quase 3 anos de hiato. Houve quem mudasse de vida e de país, houve quem representasse Portugal em eventos internacionais, houve quem se tenha estreado na publicação, e há mesmo quem viva hoje da escrita (depois de se estrear nessas lides por aqui). Evidentemente, houve quem casasse ou esteja prestes a casar - como o retocado cabeçalho indica.
De resto, agrada-me constatar que a vida deste grupo de 13 melhorou para todos.
Enfim, regressamos. Foi criado um novo endereço de hotmail porque o anterior suicidou-se automaticamente devido a falta de uso. Mas, pelo menos para já, a lista de links fica como permaneceu desde o primeiro fim. Para mostrar como o mundo virtual é efémero e rápido.
Outras coisas se manterão iguais: continuamos avessos a caixas de comentários; querelas políticas e tricas da actualidade; e provavelmente ainda acrescentaremos mais casadoiros a este grupo já de si tão grande. Só para a castiçada e para irritar mais uns quantos. LFB
domingo, abril 23, 2006
a música e a ironia - 1
A sua música preferida era um clássico dos U2, "I still haven't found what i'm looking for". Mas não o podia confessar aos seus colegas de trabalho, controladores de tráfego aéreo. LFB