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sexta-feira, fevereiro 06, 2004

Adeus, Santana, Adeus! 

Uma radical mudança de instalações da produtora em que trabalho tem vindo a interpor-se entre mim e a promessa de voltar, activamente, aos posts, mas cá estou, estóico, a tentar escrever qualquer coisa contra o barulho dos meus colegas montando estantes, dos informáticos puxando cabos, do pessoal da limpeza rezando em bielorusso enquanto lava as vidraças.
Estou, entretanto, a tentar ultrapassar o choque de trocar um escritório lindo nos últimos andares do edifício Castil, a 50m do Marquês, por um estúdio imenso nos arredores de Mem Martins (se é possível imaginá-los…). Adeus, cinemateca! Adeus, Grill! Até sempre, salões de snooker, passeios pela Avenida de Liberdade ao princípio da noite, vista quase aérea da cidade, viagens de 15 minutos até ao trabalho… Ó civilização! Ó progresso! Ó urbanidade que fugiste de mim!
…e olá IC19, filas de trânsito e distâncias; avistamentos, ao longe, por entre o nevoeiro, da Serra de Sintra. Bem-vindo aos cafés de bairro, ao rostos do tédio e alegria fáceis, escorregas abandonados nas pracetas cercadas de prédios, silêncios enormes, mesmo a meio da tarde.
Pode um ilhéu tornar-se cosmopolita e agora ser, à força, convertido em suburbano?
AB

terça-feira, fevereiro 03, 2004

O Sr. Artur 

Mudar de casa é, como quem já o praticou com decisão e dezenas de caixotes em pilha sabe, um momento de caos. Neste momento, a três dias de abandonar esta morada, já não sei onde está a minha vida - se no caixote que diz "livros estante 2", se no grande saco azul que não diz nada, mas impede o acesso ao quarto (se tivesse algum humor às três da manhã de ontem, ter-lhe-ia colocado uma etiqueta a dizer "Saco da Fátima"...). Empacotei no fim-de-semana passado tudo o que iria precisar amanhã. Não tenho roupa. Não tenho candeeiros. Não tenho água quente. Não tenho tempo para arrumar o que ainda falta.
É espantoso como deprime pegar em todos os papelinhos com frases anotadas, que naturalmente hoje não fazem sentido, mas mesmo assim vão ser encaixotados com esmero. Dois anos de vida em post-it's e em talões de multibanco com frases enigmáticas. É isto, afinal, a minha verdadeira obra, colocada ao lado das panelas e dos livros cheios de pó.
Já percebi também que este ano quase de certeza não consigo entregar o IRS - onde estarão as coisas dos impostos?. Pode ser que me venham penhorar alguma coisa e facilitam-me a vida - e eu a eles: quererão levar já o caixote dos livros de processo civil? Ou dois canteiros cheios de terra e ervas secas?
Há uns dias uma amiga caridosa deu-me o telefone do Sr. Artur, que faz mudanças. Telefonei-lhe e ele marcou para sábado às oito da manhã. Não discuti. Quanto mais depressa, melhor... Ainda pensei naquelas multinacionais que têm publicidade com senhores sorridentes a embrulhar terrinas de porcelana cuidadosamente, mas não só não me apetecia consignar os meus próximos três ordenados para pagar os homens das mudanças, como me pareceu que embrulhar post-it's e velhos talões de multibanco requereria menos habilitações e poderia eu desempenhar a tarefa com sucesso. Mesmo assim, estou muito farto...
O pior da coisa é que a próxima morada só deve estar disponível daqui por umas semanas e portanto este escriba de fita-cola castanha nas calças há-de voltar sorrateiro para a casa da mamã por uns tempos. Vai ser bom... Enfim, não antecipemos desgraças enquanto não se empacotarem as camisolas. Estive mesmo para ir para um hotel qualquer, fingir que era um chileno exilado na Praça da Alegria ou um yuppie dinamarquês num resort com piscina aquecida nos arredores de Lisboa (o que aliás é ainda uma hipótese), mas não tive tempo sequer de pensar nisso a sério. Os amigos brincam e dizem "ah, vais voltar para as comidinhas da mamã"... Não sabem eles que a mamã frita ovos com dificuldade, apesar de achar a maior cozinheira do mundo... Portanto esperam-me ainda dias mais difíceis e com exames para corrigir. Pode ser que alguma aluna simpática me recolha, a troco de um valor extra no exame. E pronto, mágoas de cartão exibidas, volto ao empacotanço magno, que esta noite isto tem de ficar acabado... MR

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