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sábado, março 27, 2004

O último adeus? 

Parece que já só falto eu. Para as despedidas, quero dizer. Andei a fugir disto como o rabo à seringa – primeiro para me juntar, depois para me despedir. A verdade é que devia ter feito ambas as coisas muito tempo antes do momento escolhido para o efeito. Mas, enfim, parece que se pode efectivamente falar de uma cronologia das sensações e dos sentidos, para a qual os motivos ainda não foram descobertos. E isso nem sequer importa quando, afinal, tudo acaba por encontrar o seu lugar - o da memória ou o do esquecimento, o que acaba por ser uma e a mesma coisa. Depois de uma breve passagem pela blogosfera fiquei a saber o inevitável sobre mim (o que é o mesmo que dizer sobre todas as pessoas para quem o tempo é sempre mal empregue naquilo que o empregamos): pertenço a um género de portugueses/ que depois de estar a blogosfera descoberta/ ficaram em silêncio. Ou, como diria o Manuel de Freitas, na minha derradeira citação casadoira:

Depois do fim, acumulam-se
os estilhaços e visitam-se
as moradas do costume.
Acendem-se cigarros, em jeito
de desporto, e talvez tudo
isto seja ainda a morte.

Não se contam estórias,
improváveis estórias, sobre
a noite que saqueia os corpos,
restituindo-os à memória
do nada. Empilham-se os dias,
com um terror leve e brando,
com a certeza de que não
voltarão, paciência.

A voz de ninguém há-de atenuar
esse grito - gestos de fuga
e riso que por descuido apenas
deixamos que existam. Encostados
nulos à parede dos minutos,
à espera de quem prometeu não vir
(com que rosto inábil, venha o diabo
e diga). Não vale a pena o esforço,
a inspiração da mágoa sob
os pulmões desatentos:

depois do fim é ainda o princípio.

(«Depois do fim», in GAME OVER, Lisboa, &etc, 2002.)


E , no entanto, não será tão dramático quanto isso... Que me conste, desde o princípio, nenhum de nós mudou de estado civil. IFS

sexta-feira, março 26, 2004

POST MORTEM 

Morreu o "Desejo Casar"? Não há perfeitamente questões de "vida" ou "morte".

Os gestos que nos vêm ocupando os dias (e o Desejo Casar era um de esses gestos) são sempre muito menos importantes do que pensamos.

É irrelevante que o Desejo Casar tenha terminado. Transformar-se-á em uma memória, e de isso em coisa nenhuma.

Seria assim sempre, mais cedo ou mais tarde. E nada nunca ocorre cedo de mais, como nada ocorre tarde de mais. Ocorre apenas, é tudo. LDA

terça-feira, março 23, 2004

Ponto final 

Nunca desejei realmente casar. Fi-lo mais por uma questão prática, de papeladas e impostos. Gostei da parte da festa. Ainda era dia e já estava com os copos. Só arranjei um sítio para passarmos a lua-de-mel às três da manhã. Foi um empregado que estava a servir os convivas, um empregado que tinha sido meu colega de liceu, um empregado que telefonou para um amigo de um amigo que era recepcionista num hotel de Lisboa. Na manhã seguinte acordei numa suite com vista para o Tejo e para um enorme bairro de lata. Foi assim, o meu casamento.

Também nunca desejei realmente casar no Desejo Casar. Nunca fui um apaixonado habitante deste blogue como o LFB, nunca levei isto a sério como o NCS, nunca me dediquei como alguns dos outros. Nunca levei esta relação a sério. Sejamos sinceros. Eu nunca tive intenções honradas. Foi só o prazer ocasional. Gostaria que ficássemos amigos, mas bem sei como são os finais de relações. Amigos? Isso é o que todos dizem. Bem sei que vos posso magoar, mas não tenho nada de realmente profundo a dizer neste último post. Não estou emocionado. Não sinto o final de um ciclo. Não estou minimamente chateado. Aliás, essa é, para mim, a melhor explicação para o final do Desejo Casar. Porque não fico triste com o seu fim.

Por isso mesmo, porque sei que seria desonesto fazer um post pungente ou uma mariquice qualquer do género, não direi mais nada. No entanto, como acho que todos os que ficam tristes pelo fim do DC, também merecem respeito, deixo-vos uma citação de Isaac Babel:


"Não há ferro que penetre o coração com a força com que o faz um ponto final colocado no sítio certo".

Isto sim, é escrever. Andámos nós para aqui quase um ano...

Tiago Rodrigues

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