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sábado, agosto 16, 2003

Sobre os ucranianos 

Tenho uma teoria sobre os ucranianos. Serão em Portugal o que os emigrantes portugueses foram em França, com uma diferença: são bem formados, a maioria tem cursos superiores, são dedicados, bem-educados, íntegros. Daqui a 30, 40 anos, as segundas e terceiras gerações de imigrantes ucranianos terão poder e influência na sociedade portuguesa. E ainda bem. LFB

Como atender uma testemunha de Jeová 

O meu avô materno, já depois dos 60 anos, gostava de receber assim as testemunhas de Jeová que lhe vinham bater à porta: “Ah… desculpe… mas o meu pai está no quarto com a minha mãe e não pode atender”. LFB

sexta-feira, agosto 15, 2003

Me llamo Luís Felipe 

Tenho o sonho de acabar a minha carreira de criativo aos 45 anos e ir viver para Espanha. Acho que os espanhóis são portugueses alegres e por isso gosto deles. Ficarei perdido numa cidade de média dimensão junto ao mar, praticando um novo Tratado de Tordesilhas: escrever em português e fazer amor em espanhol. LFB

Entre marido e mulher 

Uma vez, noite alta, ouvi gritos numa esquina escura do Areeiro. Uma mulher era violentamente espancada por um homem. Atirada contra a parede, a roupa rasgada, a cara pontapeada. Corri para cima do sujeito e, por instinto, dei-lhe uma dose do próprio remédio. Parei quando ouvi os insultos da mulher. A mim dirigidos. Alguém me quer explicar isto? LFB

quinta-feira, agosto 14, 2003

De Kerouac a Lynch, uma noite no Alentejo 

Numa das noites do Sudoeste, tive de conduzir da Zambujeira até Tróia. A situação não seria dramática se não tivéssemos em conta os seguintes factores: ser eu um dos condutores mais inexperientes do mundo, nunca ter feito uma viagem tão grande, nunca ter conduzido em qualquer um dos kms daquelas estradas, o carro não ser meu, passar das duas da manhã e eu estar sonolento e não completamente livre de álcool, tal modo confundir, aqui e ali, o nevoeiro com a entrada nos céus, depois de já ter batido e nem ter dado por isso.
Coroei-me de glória e cheguei, trazendo a casa todos os ocupantes do veículo sãos e salvos. Ainda servi de guia a uns quantos que me seguiram pelo meio da neblina. Só me devo ter enganado na direcção duas vezes e deixado o carro ir abaixo umas quatro, todas à chegada.
Senti-me um verdadeiro Jack Kerouac do Alentejo, percorrendo estradas desconhecidas e pessimamente sinalizadas durante kms a fio, sem que me cruzasse com ninguém. Pelo meio, ia descobrindo as belas localidades de Teimosas, Bicos, Pouca Farinha, Tanganheira e Sonega, entre outras, para além, é claro, da misteriosa placa que, a meio do nada, aponta para o interior e diz: “Passarelle”.
A costa alentejana, amigos, dava um filme. Ponham-me isto nas mãos do Lynch e vão ver o que é o “Lost Highway” comparado com o “Dark EN120” ou o “Mulholland Drive” à vista de um “Odemira Bridge”...
AB

MANIFESTO MONÁRQUICO 

Em 1878, escrevia o Dr. José Maria d’Almeida de Teixeira de Queiroz a seu filho José Maria Eça de Queiroz (a propósito de “O Primo Bazilio”):

“Recomendo-te só que em tudo o que escreveres evites descrições que senhoras não possam ler sem corar”.

Passados cento e tal anos, que faz corar as “senhoras” nestes tempos que hoje correm? Nada, suspeito; até porque já quase não há “senhoras”. O que me aflige terrivelmente.

É que naqueles tempos novecentistas corar não era senão sintoma de uma profundíssima inteligência do obsceno, e nada me desconvence de que, enquanto baixavam os olhos tímidos e cobriam a face com o leque, ruborescendo de um calembur mais picante, as meninas mordiscariam o lábio inferior numa antecipação arfante de pequeninas indecências.

Corar era símbolo máximo de um completo entendimento da luxúria, e manifestação correspondente de um superior desejo, de um desejo imenso.

E hoje? No musical “Chicago”, numa canção não incluída na versão cinematográfica, Mama Morton e Miss Velma Kelly discorrem sobre a falta contemporânea de “class”; a dado passo, lamentam-se assim:

“Aah! There ain’t no gentlemen to open up the doors,
There ain’t no ladies now, there’s only pigs and whores!”

Hoje, como sabem, não há forma de fazer corar esses nédios “pigs and whores”, que fazem da chafurdice uma tarefa banal, um costume irreflectido, menos até que uma tradição. E, como é evidente, quando a sordidez compõe todo o quotidiano, não mais faz afluir o sangue às faces, cessando todo o desejo verdadeiro.

A luxúria é um pecado aristocrático, e reclama uma elevação do espírito que possa sempre imprimir um prazer finíssimo às mais minúsculas incursões na pandegazinha. Sem luxúria não avançam as artes, as letras, os povos, nada.

Mas está visto que a luxúria, enfim, não floresce fora de um “milieu” brasonado e cortesão, cada vez mais difícil de restaurar nesta desclassificada república atlântica.

Batamo-nos, pois, pela monarquia, e usemos gravata preta no 5 de Outubro que se aproxima! LDA

Um dia como crianças 

Há cerca de dois anos, a Mínima Ideia produzia um programa no canal 2 chamado “Serviço Público”. Nesse tempo, eu, NCS, TR e Luís Osório trabalhávamos lá. Depois de um dia de gravações particularmente intenso, fomos jantar e terminámos, sem que ninguém o tenha sugerido, na Feira Popular. Por lá andámos umas horas e, como se fosse a coisa mais natural do mundo entre adultos, experimentámos uma boa dúzia de diversões. A última foi o rodeo mecânico. Uma multidão juntou-se, intrigada, para ver 4 homens de sorriso rasgado a ocupar os 4 “touros” e a suar as estopinhas para não serem projectados. Quando os 4 caíram alguém olhou para o relógio. Estava na hora de fechar. Tinha terminado o nosso regresso colectivo ao passado mas ninguém tirava aquele sorriso do rosto. LFB

sangue, suor e férias 

Que bom estar de férias e ter um carro para lavar, um pátio para varrer, relva para cortar. Quando a profissão se faz de trabalho intelectual, puxar pelo corpo em tarefas que não exigem raciocínio é o melhor bálsamo que se pode ter. LFB

quarta-feira, agosto 13, 2003

Beck a presidente, Beth Gibbons a primeira-dama, por favor! 

Como todo o infeliz turno de Agosto (sim, essa gente estranha que tirou férias noutra altura do ano), não pude assistir aos concertos de quinta-feira (o que só lamento pelos Múm). Na sexta, ter-me perdido cerca de 15 vezes no caminho, também me fez chegar já no final dos Suede, mas rapidamente esqueci a desilusão graças – o Pedro que me permita discordar – à energia de Jay Kay e desses Jamiroquai que subestimei durante muito tempo. Para Primal Scream não houve, honestamente, paciência e a malta deslocou-se ao simpático serviço de sauna musical oferecido pela associação Tenda Optimus – 2 Many DJ’s.
No sábado, Beth Orton serviu como descompressão da longa noite anterior. E os Morcheeba, que ouvi a partir do parque de estacionamento sabe Deus por que razões, pareciam estar a ser fantásticos! Quando Skin terá começado a berrar desconheço.
Por fim, o domingo fechava em grande. Os Moloko recuperavam a energia e o contágio dançante dos Jamiroquai, os Stereophonics serviam de intervalo para ir petiscar qualquer coisa e regressar para nos comovermos com a magia mártir de Beth Gibbons, coroando em grande o seu espectáculo low-profile com o melhor tema: murmurou-se a um coro de poucas vozes, “let the show begin...” Passados uns intermináveis 40 minutos, Beck agarrou o público sobrevivente e devolveu-lhe a energia do primeiro dia. Do mediatismo de “Loser” à intimidade de “Lost Cause”, valeu tudo. Só lamento que, uma vez mais, o turno de Agosto me obrigasse a voltar a Lisboa e abandonar, cerca das 3 e meia, o concerto a meio.
A fome e as estradas impossibilitaram a visita a Badly Drawn Boy e aos projectos nacionais que abriam as noites, mas lá que os 50 euros do bilhete foram um dos melhores investimentos do ano, lá isso foram.
AB

Zambujeira do Mar a concelho 

Cumpre-me admirar a organização do Sudoeste 2003 e todos quantos o frequentaram. Assim como, por altura do Cosmópolis, partilhei a minha decepção para com a perfeita falta de desejo dos habitantes da dança, é, agora, tempo para uma reconciliação.
Nos três (de quatro) dias de evento em que participei, não se deu por um único desacato. Tudo era conversado com calma e compreensão, as pessoas pediam desculpa se se pisavam, ofereciam fatias de pizza, uns bafitos, um espaço à sua frente no concerto, desde que fôssemos mais baixos que eles… A organização soube controlar as entradas na medida certa, relvou o lugar, assistiu todos aqueles que o álcool já deixara no chão (que nem foram muitos e, para mais, souberam ficar na sua). É pena apenas, como escrevia o Público, que as tascas continuem a parecer uma cortesia da Feira Popular e que, à falta de baldes de lixo, tenha sido dado esse aspecto às casas de banho.
No fim, o saldo é, sem sombra de dúvida, positivo. Uma média de 25 mil pessoas por dia quis divertir-se, dançar, cantar, sentar-se na relva a rir, acordar ao sol e, predominantemente, tocar estranhos. A sensibilidade e o desejo, aquilo que eu pensava ter sido expulso das noites, parecem ser, afinal, apenas uma questão sazonal. Ou então é da geografia.
AB

Aperitivo? due Bellini, per favore  

Aterrado na renovada aerogare do aeroporto Marco Polo fomos direitos ao tramezzini (sandes) di rucola e spriz macchiato all' aperol (prosecco + aperol + azeitona + gelo) no café Rosso (estudantada + kmer rossos) no Campo santa Margherita.
Agosto em Veneza surpreende este ano pelo vazio (as mil solidões de Nietzsche sempre me deram valentes encontrões nas estreitas ruelas), devem estar todas no Lido, ou na Quarteira. Tudo fechado aqui, as livrarias e restaurantes (Alle Testiere, Tonolo, etc) fecham em agosto, vingam em outros carnavais. Desolados, restou-nos um Bellini (prosecco com sumo fresco acabado de fazer de pessego) na varanda do Hotel Gritti, onde Hemingway ainda dispara bolas de golf do quarto. Brindei à Laura (lindissima) acenando aos Barovier (conhecida familia de vidreiros) na janela da casa em frente, em Santa Maria della Salute no fim do Canal Grande (O Massimo -amigo constructor de veleiros- leva-lhes o yate para Istanbul) . Deve ser da idade ou da falta de paciência mas é um facto que me rendo cada vez mais aos grandes prazeres desta vida, após reinventar os meus mundos, ao fim de todas as tardes, sempre o princípio de uma eterna impaciência. BR

pentiuns moralistas não! 

"O seu sistema está a atingir níveis perigosamente baixos", dizia-me o meu toshiba ontem por volta das duas da manhã...
Está bem que me poderia ter portado melhor, mas é assim...
Eu aguento Verões asfaltado em Lisboa, teses que nunca mais acabam, a impossibilidade prática de ler coisas boas durante uns tempos - mas não tenho de ouvir lições de moral de um meia leca de 14 polegadas!! O que sabe ele do que é a vida? MR

Enigma 

Como é que um cego vê as horas?, passou-me uma vez pela cabeça, no comboio a caminho de casa enquanto passava pela estação de Benfica. Como é que um cego vê as horas? Tira o vidro do mostrador do relógio de pulso e depois tacteia os ponteiros? Não é prático. Cada vez que o fizer, corre o risco de empurrar os ponteiros e atrasar ou adiantar o relógio várias vezes ao dia. Ocorre-me que o relógio digital, o visor do telemóvel, o relógio de sol ou até mesmo a ampulheta não são alternativas a ponderar. Só se ouvirem rádio constantemente e mesmo que ouçam a TSF só sabem as horas a cada meia hora que passa. Então quer dizer que além de nunca poderem ver o Beijo do Klimt ou um golo do Eusébio, os que nascem cegos também nunca podem combinar um encontro importante, digamos, por exemplo, para as cinco e vinte? O comboio chegou à Reboleira e eu saí. Estava eufórico. Corri os três lanços de escadas e ao entrar em casa lancei o enigma: como é que um cego vê as horas? Com um relógio especial, em braile, a dona Celeste tem um, respondeste antes de me beijar, pousando o biberão já vazio. Não sei quem é a dona Celeste, mas pelos vistos deve ser cega. Enterrei-me no sofá sem sequer tirar o casaco. Foi a única vez que pensei que podíamos não viver juntos para o resto da vida. TR

Assim Foe 

Marc-Vivien Foe era um jogador camaronês respeitado no seu país, e no Lyon e Manchester City, os clubes europeus que representou. Na meia-final contra a Colômbia, na Taça das Confederações, caiu inanimado a meio do relvado. Morreria minutos depois. No final da partida, os colombianos esqueceram a derrota para correr até ao posto médico. Queriam saber como estava o seu colega de profissão.
A Uefa obrigou os Camarões a defrontar a França – na primeira vez que uma equipa africana atingia a final de um torneio internacional. Todos os colegas de Foe entraram em campo com o seu nome escrito nas costas, menos um, que ficou no balneário lavado em lágrimas. O guarda-redes francês, colega de Foe no Lyon, chorou durante o hino dos Camarões e o minuto de silêncio. Seguiu-se o primeiro grande jogo de futebol jogado a contragosto pelos intérpretes - mas com espírito de missão. Os Camarões perderam e Marcel Desailly, capitão francês, dividiu o troféu e as medalhas com os colegas africanos. Um adepto do Manchester City deixou este cartão à entrada do estádio: “Sentiremos falta do teu sorriso, Marc”. Quando o futebol é maior que a vida. LFB

Um herói como nós? 

Alessandro Zanardi era um dos mais conceituados pilotos da Indy Séries (o equivalente norte-americano à F1, por onde o italiano também andou mas sem grande brilho). Há dois anos, na mítica pista oval de Indianapolis, Zanardi foi abalroado por dois carros e entrou em coma profundo. Quando despertou não tinha as duas pernas. Muitos meses de dor e desespero depois, atravessado um inédito processo de recuperação, Alessandro entrou num carro preparado para a sua nova condição e terminou as milhas que lhe faltavam para completar as 500 de Indianapolis. E vencer. LFB


terça-feira, agosto 12, 2003

Ondas de Bruma - ainda um apontamento acerca das férias 

Fiquei com a ideia de que a qualidade geral dos restaurantes da Terceira (habitualmente, um dos seus maiores atractivos) havia baixado. Uma surpresa houve, contudo: o novo restaurante do americano Stuart.
Prejudicado por umas obras camarárias junto ao seu café na Rua da Rocha, com uma das melhores vistas sobre a cidade de Angra, Stuart transferiu-se para aquela que julgo seja a sua própria casa, na Canada dos Folhadais, isto é, bem longe da cidade, num caminho cercado de habitações privadas, algures entre duas freguesias.
O nome permaneceu o mesmo – Ondas de Bruma – é banal, mas dito pela sua boca, no sotaque estrangeiro que sulca a distância, soa muito bem. De resto, tudo mudou. Por segundos, julgamos estar numa grande capital mundial que, cansada de criar produtos para as massas, abre pequenas brechas de absoluta alternativa. Entramos pelas traseiras, através do seu quintalito e, logo, estamos na sala – é aí o restaurante. Lá, estão os discos de Stuart, a sua lareira, o seu televisor, a sua família sentada a conversar ao canto mais distante. A mobília é constituída também por peças de sala de estar, mas totalmente desirmanadas. Não há carta, mas três ou quatro pratos confeccionados para cada dia, mais umas excelentes entradas e sobremesas a que se juntam os bons conselhos do dono da casa.
Dele que há a dizer? Que é mentira que tenha sido marinheiro, ao contrário do que já tinha ouvido dizer, mas sim que cá veio parar por intermédio do escritor açoriano Onésimo Teotónio de Almeida, que lhe orientava a tese de doutoramento nos Estados Unidos, tendo acabado por casar com uma senhora portuguesa. É, provavelmente, o tipo mais calmo do mundo e consegue passar essa contagiante serenidade para todo o ambiente da sala. Stuart é, por fim, a partir da sua americanidade, o único dono de um restaurante (fashion, ainda por cima) capaz de nos deixar, toda a noite, ouvir fado.
AB

Terça-feira, 12 de Agosto 

No DN de hoje, a única coisa que se aproveita é a notícia da obra de um discreto poeta, Rodrigo Cunha, homem afastado do "mainstream" da produção livreira nacional. Publica-se um excerto do seu mais recente trabalho, "Bridge", de título homónimo:

"Sabine cortou a vaza inicial e jogou uma figura de trunfo da mão,
constantanto a má repartição.
A seguir um Ouro para a mesa e dois de Espadas, Valete de Norte, Dama e Ás;
Oeste repetiu paus,
Sabine cortou e jogou
uma Espada para o dez, rei de Este
que insistiu em Paus,
mais uma vez
cort ado.

Agora chegou o momento da verdade,
com Oeste a ficar com mais trunfos que o declarante;
mas Sabine mostrou o que vale
- começou por tirar a segunda figura de Ouros
e continuou com uma Espada para o nove, que fez;
depois foi jogando as Espadas apuradas,
quando Oeste cortou,
recortou com o Ás
destrunfou
e............................................................................................tabelou.

Repare-se que, sem a preocupação de
tirar a segunda vaza de Ouros,
o contrato já não se cumpre.
Bem jogado!"

(Rodrigo Cunha, "Bridge", 2003) MR

Classificados 

"O Sol. Nasce às 06.48 / Ocaso às 20.36"
Ofereço-me para turno da noite. Sem experiência.

Tão simples de dizer, tão difícil de praticar 

Ao ligá-lo, o meu telemóvel ilumina-se com uma frase: “a vida é maravilhosa quando não se tem medo”, de Charlie Chaplin. Infelizmente, a minha vida não tem código PIN. LFB

Carpe Diem 

Quando tinha 17 anos vi a “Ceia dos Cardeais” no Teatro Angrense. Participavam Curado Ribeiro, Varela Silva e Ruy de Carvalho. No final fui aos bastidores com um grupo de amigos pedir para eles os autógrafos que tinham vergonha de requerer. Foi com Ruy de Carvalho que fiquei à conversa. Um mês depois, naquele mesmo palco, ia estrear-me no teatro com a personagem de Telmo Pais, do Frei Luís de Sousa. Sabia que o actor já o tinha feito muitas vezes e pedi-lhe conselhos. Falámos disso e do generation gap e da velhice e da importância do minuto que passa. Despedi-me dele roubando uma frase que os seus colegas lhe perguntavam insistentemente ao longo da peça: “Em que pensa, Cardeal?”. Ruy de Carvalho respondeu, “Em quão diferente é o amor em Portugal”. E foi abraçar Varela Silva e Curado Ribeiro, que faleceriam pouco tempo depois. LFB

segunda-feira, agosto 11, 2003

A voar entre Açores e Veneza  

descobri uma belíssima teoria.
E cada vez me fascina mais este encontro de sentidos. BR

Invejo o Sam Shepard 

Porque é o único americano a quem eu perdoo escrever histórias sem punchline. TR

O papel público do guionista 

Gosta de cinema? Sim? Tem alguns filmes e realizadores na lista de monstros sagrados? Qual é o seu filme preferido? Ah, sim? E sabe quem escreveu?

Pois é. O papel público do guionista faz lembrar o monstro de Loch Ness. Não existe. Não que a fama seja importante, nem é disso que se trata. Mas o reconhecimento sim.
Recentemente, Hollywood quase parou com a greve dos argumentistas. Queriam que os filmes deixassem de aparecer “by Steven Spielberg”, por exemplo, e surgissem “by Steven Zaillian e Steven Spielberg”. Depois de muita luta conseguiram que os seus créditos surgissem imediatamente antes do nome do realizador, uns frames de diferença. Já não é mau.
Entretanto, eu e o NCS gostamos de imaginar o gozo que seria se, tal como os actores, os guionistas tivessem fãs: “Meu, adorei aquela deixa que escreveste no Magnolia para o Tom Cruise! E teres escolhido a palavra “Cunt” em vez de “Pussy”! Genial!”. LFB

De Ginger Lynn a Holderlin 

Hugh Grant

O actor inglês é a nossa figura pop de hoje. Conseguiu duas coisas extraordinárias: o cúmulo do glamour, namorar com Liz Hurley; e o cúmulo da decadência, ser apanhado num trabalho de sopro com Divine Brown. No entretanto, ficou conhecido nas ilhas britânicas como o Pedro Tochas lá do sítio, graças à trunfa imparável. E formou-se em galã trapalhão com one-liners espantosas. O que pouca gente sabe é que Hugh Grant começou a carreira como vilão em séries televisivas. Tão genialmente detestável que era perseguido na rua por pessoas que lhe queriam ensinar com quantos dólares se paga a uma prostituta de L.A..
Bons filmes de Hugh:
Lua de mel, lua de fel; Sirens; 4 casamentos e um funeral; O Diário de Bridget Jones; About a Boy.
Disse numa entrevista, aos 40 anos, que entre casar e ter filhos e continuar a beber martinis no Ritz, preferia a segunda. Por causa disso, perdeu todas as hipóteses de colaborar no DC. LFB


domingo, agosto 10, 2003

Crítica de cinema 

Das piores coisas que pode acontecer em pleno Agosto é ver-se um mau filme. Quando isso acontece em Janeiro ou em Novembro, dilui-se na chuva, esquece-se dentro do cachecol, é arrumado por entre as noites que começam a meio da tarde. Mas em Agosto, no Agosto deserto e quente de Lisboa, é terrível.
O melhor deste filme foi o ar condicionado e a sala com quatro pessoas. O resto é inacreditável. Deve ter recebido fundos estatais e comunitários e o autor pediu ao filho de três anos que escrevesse qualquer coisa enquanto estivesse a por tulicreme no pão, à pressa, atrasado para o infantário, enquanto ele ía passar férias (dois anos?) nas Caraíbas. Trata-se de uma coisa chamada "Rua dos Prazeres", o que até é uma tradução fiel do título na língua original, revelando a nula paciência de quem o viu antes até para as habituais traduções queirosianas dos nomes dos filmes. O filme é uma chatice pegada, não tem sentido, não tem diálogos, comove pela pobreza. Aparece uma Laetitia Casta a fazer de prostituta mentecapta, que é um enormíssimo mono. Tem uma espécie de coro grego de meretrizes desocupadas à chuva, irritantes. Pisca o olho à "Amélie", mas é só: um olho piscado. Enfim, a história podia dar um bom filme, mas não deu. Nessas alturas, telefonem: eu junto-me com os meus amigos para jantar, fazemos aquilo em duas noites e passamos à mesma o resto do ano de férias. Só que fica bom. E, se não gostarem, nós devolvemos o dinheiro. MR

Aqui no cume da ilha  

Lembrei-me de devaneios em outras ilhas...
Uma vez em NY fui de Manhattan até Huntington, Long Island para visitar a casa-museu de Walt Whitman, em busca de redenção na natureza e fuga da metrópole asfáltica.
Na maravilhosa pequena cidade rodeada de verde e lagos um disléxico taxi levou-me direitinho à porta do Walt Whitman Shopping Mall. Comprei uns discos no kmart e vagueei, profuso, pelos corredores da Victoria's Secret. Não cheguei a ir naquele dia à pretendida casa, mas vi um pouco do novo mundo. A América tem este fervor, vou visitar o poeta da multiplicidade e volto com a multidão de um solilóquio, universal, global (este espelho blogal).
Next Week, new island, Old Word, de avião para Veneza...again (não se desenha um teatro sem saber como se constroem gondolas. Diz-me a Laura que seguem uma ciência antiquíssima, feita entre equilíbrios e assimetrias de cor(ação)po).
Sinto-me um pouco marinheiro, entre estas ilhas e o Porto, vértice deste barco, Ivre, de vida. BR

Os blogs que não fazem links 

Irritam-me. Apesar de serem costumeiras as poucas normas da blogoesfera, quer-me parecer que uma delas é incentivar a leitura de outros blogs através da faculdade que o servidor nos oferece, sem custos. Porque não ter links? Tudo bem que não se façam listas de 50 nomes ou mais – manifesto exagero - mas a barra de links deve servir como uma lista de personal favourites do autor do blog, a menos que não os tenha e se considere o único digno de ser lido. A peneira começa aqui. Nos dois sentidos. LFB

Elvis aos 10 anos 

Ao ouvir os meus CD’s de férias lembrei-me do primeiro álbum que comprei na vida. Foi aos 10 anos, um best-of de Elvis Presley em cassete pelo qual paguei uns exorbitantes 250$. Agora, se me dão licença, vou procurar a cassete e dançar o “All shook up” em cima da cama e sonhar que sou o King. O pior que me pode acontecer é ser apanhado pelos meus pais e ouvir um discurso choroso sobre o dinheiro que gastaram para que tirasse um curso superior. “Para isto!” LFB

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