sábado, janeiro 10, 2004
lições de capitalismo, vol. I
Foram ontem divulgados os números mais recentes sobre o desemprego na Alemanha. De acordo com os dados, a taxa de desemprego neste país atingiu em Dezembro os 10,4 %, percentagem que corresponde a cerca de 4,3 milhões de pessoas. Num país habituado a várias décadas de aumento dos níveis de prosperidade, também o ano de 2004 continuará ensombrado por um clima negativo. O presidente do Instituto Federal do Emprego prevê que a situação no mercado de trabalho apenas irá melhorar em 2005. O presente ano será também marcado pelas reformas que o governo pretende implementar no sistema de saúde e na segurança social, ambos em risco de colapso, reformas essas que irão aumentar substancialmente os custos para os utilizadores. A Alemanha vê-se também confrontada com o denominado “conflito das gerações”, devido ao envelhecimento progressivo da população e ao aumento da esperança de vida, que estão a pôr em causa o regime de reformas actual. Enquanto os idosos, cada vez mais numerosos (e poderosos), gozam de reformas muito confortáveis e não pretendem abdicar de direitos adquiridos, as gerações mais jovens estão conscientes que a reforma garantida não será suficiente, sendo ao mesmo tempo obrigados a contribuir de forma significativa para tapar buracos financeiros em vários sectores. Face a este panorama pouco auspicioso para um início de ano optimista, e tendo também ainda presente o ano de 2003 como um ano de crise económica mundial, não deixa de espantar que nesse mesmo ano a Porsche tenha conseguido obter nos Estados Unidos o seu segundo melhor ano, em termos de vendas, da sua história. Como já dizia o outro, há sempre uns que são mais iguais que os outros. REC
e para finalizar o post anterior, uma pitada de humor negro (apesar de não se dever brincar com estas coisas)
Segundo as últimas notícias, o Ministério do Trabalho alemão está a considerar recorrer aos serviços do famoso canibal de Rothenburg para reduzir o número de desempregados. REC
sexta-feira, janeiro 09, 2004
O caminho do silêncio
O Borges, inscrito nas memórias dos leitores deste blogue como LFB, saiu do Desejo Casar. Correndo o risco de receber algum «hate mail», deixem-me dizer-vos que acho que fez muito bem. Seguir o seu caminho é característica dos artistas e o Borges é, como sabemos, um artista. Como todos os artistas, corre o risco das seduções e tentações constantes. E aqui apetece, muito ao gosto do Borges, citar Oscar Wilde: “consigo resistir a praticamente tudo, excepto a uma tentação”.
As tentações do Borges são, muitas vezes, pequenas ideias sedutoras, pequenas genialidades, os vulgarmente chamados “projectos interessantes”. Ora, é sabido que os “projectos interessantes” são a coisa mais próxima que existe das “boas intenções”. Deles está o inferno cheio. E para um artista, sobretudo um artista jovem, o inferno pode ser a dispersão.
O Borges trabalha muito. Foi isso que fez dele a alma e o «enche-chouriços» do DC. Escreve compulsivamente. Não consegue parar. É o sintoma da sua paixão mas, como alguns amigos já lhe sussurraram num tom vagamente paternalista, pode também ser o caminho para a dispersão. Por isso é natural que o Borges queira concentrar-se em trabalhos pessoais e de maior fôlego. A blogosfera exige uma aceitação do efémero que nem sempre é agradável a quem tenha pretensões literárias. E o Borges tem-nas. Aliás, com muita legitimidade, como pode verificar quem já teve a oportunidade de folhear o seu primeiro livro de poemas “Mudaremos o mundo depois das três da manhã”. Deixemos o Borges seguir o seu caminho que, mais tarde ou mais cedo, passará novamente pela blogosfera. Mas façamos um esforço também para que todos os que leram o Borges pela primeira vez aqui na blogosfera, o «sigam» para outras paisagens como a poesia ou o teatro ou o já prometido romance.
A propósito da saída do Borges, recordo que, há uns dias, fiz algo que tenho como vício esporádico: ler revistas e jornais antigos. Não muito antigos. De há 5 ou 10 anos. Dos anos que recordo. Ao deitar os olhos por uma revista LER de 1993, encontrei uma reportagem sobre 18 escritores com menos de 35 anos. Eram aqueles que a LER elegia como o futuro da literatura portuguesa, os mais talentosos de uma geração. Só conheço meia-dúzia, o que me parece sintomático de uma de três coisas. Em primeiro lugar, a minha profunda ignorância em tudo o que não seja nomes de actores de filmes americanos (pode ser...). Em segundo lugar, a incompetência da revista LER no que toca a leituras de mapas astrais e capacidades proféticas (também pode ser...). Em terceiro lugar, o facto de só criar obra quem não desperdiça talento e tem realmente uma voz única (é pomposo, mas também é possível).
Eram 18. Estava lá o Jorge Sousa Braga, como se alguma vez tivesse sido um jovem com algo a provar e não fosse um génio desde o dia em que escreveu o primeiro verso. Estava lá o Rui Zink e a Catarina Fonseca (não os agrupei por qualquer espécie de afinidade lierária). Estava lá o Nuno Artur Silva, cujo perfil informava, em jeito de nota de rodapé, que “também” fazia parte de um pequeno gabinete de escrita chamado Produções Fictícias, como se se tratasse de um projecto paralelo. É engraçado hoje verificar que a empresa Produções Fictícias, onde tenho o prazer de trabalhar, é a mais reconhecida «obra» do Nuno Artur, pela qual com certeza sacrificou algumas obras pessoais.
Estavam lá mais um ou dois que conheço, não me lembro agora quais. Não tenho a revista à minha frente e se calhar, estou a esquecer-me de alguém importantíssimo. Talvez estivesse lá o Agualusa ou outro escritor desta geração, mas acho que não. Seja como for, não é isso o relevante. O relevante é que estavam lá mais dez ou doze nomes de tipos que eram talentosíssimos nesse ano da graça de 1993 e que hoje continuam, decerto, a ser talentosíssimos, só que ninguém sabe.
A medida do talento não é a medida do sucesso, bem sei e subscrevo. Mas a medida do talento muito menos é a medida do anonimato. Recuso-me a acreditar que assim seja ainda hoje. O que eu acho é que muitos desses tipos que eu não conheço não souberam deixar de escrever nos seus Desejos Casar, não souberam gerir as tentações, não souberam arriscar o silêncio que gera voz. TR
As tentações do Borges são, muitas vezes, pequenas ideias sedutoras, pequenas genialidades, os vulgarmente chamados “projectos interessantes”. Ora, é sabido que os “projectos interessantes” são a coisa mais próxima que existe das “boas intenções”. Deles está o inferno cheio. E para um artista, sobretudo um artista jovem, o inferno pode ser a dispersão.
O Borges trabalha muito. Foi isso que fez dele a alma e o «enche-chouriços» do DC. Escreve compulsivamente. Não consegue parar. É o sintoma da sua paixão mas, como alguns amigos já lhe sussurraram num tom vagamente paternalista, pode também ser o caminho para a dispersão. Por isso é natural que o Borges queira concentrar-se em trabalhos pessoais e de maior fôlego. A blogosfera exige uma aceitação do efémero que nem sempre é agradável a quem tenha pretensões literárias. E o Borges tem-nas. Aliás, com muita legitimidade, como pode verificar quem já teve a oportunidade de folhear o seu primeiro livro de poemas “Mudaremos o mundo depois das três da manhã”. Deixemos o Borges seguir o seu caminho que, mais tarde ou mais cedo, passará novamente pela blogosfera. Mas façamos um esforço também para que todos os que leram o Borges pela primeira vez aqui na blogosfera, o «sigam» para outras paisagens como a poesia ou o teatro ou o já prometido romance.
A propósito da saída do Borges, recordo que, há uns dias, fiz algo que tenho como vício esporádico: ler revistas e jornais antigos. Não muito antigos. De há 5 ou 10 anos. Dos anos que recordo. Ao deitar os olhos por uma revista LER de 1993, encontrei uma reportagem sobre 18 escritores com menos de 35 anos. Eram aqueles que a LER elegia como o futuro da literatura portuguesa, os mais talentosos de uma geração. Só conheço meia-dúzia, o que me parece sintomático de uma de três coisas. Em primeiro lugar, a minha profunda ignorância em tudo o que não seja nomes de actores de filmes americanos (pode ser...). Em segundo lugar, a incompetência da revista LER no que toca a leituras de mapas astrais e capacidades proféticas (também pode ser...). Em terceiro lugar, o facto de só criar obra quem não desperdiça talento e tem realmente uma voz única (é pomposo, mas também é possível).
Eram 18. Estava lá o Jorge Sousa Braga, como se alguma vez tivesse sido um jovem com algo a provar e não fosse um génio desde o dia em que escreveu o primeiro verso. Estava lá o Rui Zink e a Catarina Fonseca (não os agrupei por qualquer espécie de afinidade lierária). Estava lá o Nuno Artur Silva, cujo perfil informava, em jeito de nota de rodapé, que “também” fazia parte de um pequeno gabinete de escrita chamado Produções Fictícias, como se se tratasse de um projecto paralelo. É engraçado hoje verificar que a empresa Produções Fictícias, onde tenho o prazer de trabalhar, é a mais reconhecida «obra» do Nuno Artur, pela qual com certeza sacrificou algumas obras pessoais.
Estavam lá mais um ou dois que conheço, não me lembro agora quais. Não tenho a revista à minha frente e se calhar, estou a esquecer-me de alguém importantíssimo. Talvez estivesse lá o Agualusa ou outro escritor desta geração, mas acho que não. Seja como for, não é isso o relevante. O relevante é que estavam lá mais dez ou doze nomes de tipos que eram talentosíssimos nesse ano da graça de 1993 e que hoje continuam, decerto, a ser talentosíssimos, só que ninguém sabe.
A medida do talento não é a medida do sucesso, bem sei e subscrevo. Mas a medida do talento muito menos é a medida do anonimato. Recuso-me a acreditar que assim seja ainda hoje. O que eu acho é que muitos desses tipos que eu não conheço não souberam deixar de escrever nos seus Desejos Casar, não souberam gerir as tentações, não souberam arriscar o silêncio que gera voz. TR
Último Post
Este é o último post que escrevo.
Julgo que a irregularidade ou inconstância das palavras que por aqui fui deixando não justifica que o meu nome continue a figurar no cabeçalho.
Por outro lado, este ano que acaba de começar vai ser, profissional e pessoalmente, arrasador (espero, in fine, que no bom sentido), inibidor de outra escrita que não a que se relaciona com o meu trabalho - verdadeira chatice, mas chatice necessária.
Ainda assim,
DESEJO CASAR.
HR
Julgo que a irregularidade ou inconstância das palavras que por aqui fui deixando não justifica que o meu nome continue a figurar no cabeçalho.
Por outro lado, este ano que acaba de começar vai ser, profissional e pessoalmente, arrasador (espero, in fine, que no bom sentido), inibidor de outra escrita que não a que se relaciona com o meu trabalho - verdadeira chatice, mas chatice necessária.
Ainda assim,
DESEJO CASAR.
HR
quinta-feira, janeiro 08, 2004
Justiça poética
Segundo a lei portuguesa, uma mulher que dê à luz um nado-morto tem direito a gozar licença de maternidade. TR
quarta-feira, janeiro 07, 2004
auto-retrato sobre cruzamento movimentado
Na viagem para o aeroporto, atento às últimas impressões de Lisboa, reparei que o Marquês de Pombal que nos dá umas indicações úteis sobre o trânsito, num cartaz estrategicamente colocado no cruzamento entre a Rua Castilho e a Duarte Pacheco, tinha umas feições que se assemelhavam muito às do Santana Lopes. Trata-se de uma operação plástica feita de uma forma muito subtil, mas para quem olhe atentamente não restam dúvidas. Não sei se se trata de um tema já exaustivamente discutido nos cafés de Lisboa, nem se Santana Lopes também o confessou, mas a verdade é que as pessoas com quem falei até agora ainda não o tinham notado. Infelizmente não tenho forma de voltar ao local do crime, mas confesso que me intriga. Estratégia de marketing visando dominar o inconsciente das pessoas ou pura mania da perseguição da minha parte? (e era nestas alturas que costumava surgir o Fernando Pessa, com a sua famosa tirada) REC
A causa merece
Não costumo transmitir forwards, nem pretendo adulterar este espaço, mas abro aqui uma excepção: para quem assistiu à lenta agonia do cinema Paris, em Campo de Ourique, ao pé do bairro onde vivi, trabalhou no Tivoli nos seus últimos tempos como cinema (Lisboa94), e sempre se sentiu revoltado com o abandono e desprezo a que a cidade condenou os seus cinemas históricos, esta iniciativa para salvar o Cinema Odéon merece todo o apoio (claro que os últimos filmes aí exibidos puxam para uma piada fácil, com subsequente piscadela de olho e cotovelada cúmplice, mas a graçola fica no ar, aproveite-a quem quiser).
“Caros amigos,
Comece o ano de 2004 a praticar uma boa acção!
Ajude-nos a lutar pelo Cinema Odéon (http://novoodeon.tripod.com),
comprando simbolicamente uma cadeira das 200 que ainda estão à procura de “dono", no nosso "leilão" virtual, em http://www.lisboa-abandonada.net/odeon .
Obrigado e BOM ANO!
Paulo Ferrero
NOVO ODÉON
Blogue: http://novoodeon.tripod.com/blogue”
REC
“Caros amigos,
Comece o ano de 2004 a praticar uma boa acção!
Ajude-nos a lutar pelo Cinema Odéon (http://novoodeon.tripod.com),
comprando simbolicamente uma cadeira das 200 que ainda estão à procura de “dono", no nosso "leilão" virtual, em http://www.lisboa-abandonada.net/odeon .
Obrigado e BOM ANO!
Paulo Ferrero
NOVO ODÉON
Blogue: http://novoodeon.tripod.com/blogue”
REC
pequena e condicionada tentativa de manifesto
Se as minhas palavras não estivessem demasiado ocupadas a escavar um fosso gigante entre significados e significantes; se eu tivesse dado ouvidos ao LFB mais cedo, andasse pelo DC há mais tempo e soubesse pôr aqui uma imagem capaz de colmatar as impossibilidades das minhas palavras; se os poemas que, ultimamente e à revelia dos meus deveres, se impõe à minha memória não fossem compostos por versos do Miguel Torga, eu conseguiria queixar-me ao coração do LFB, falar-lhe sobre a minha indignação, a minha tristeza, chorar por me sentir abandonada (mesmo estando rodeada por mais 13 ou 14 ou não sei quantos casadoiros), em suma, demonstrar-lhe com um textozeco de nada a inquietação que sinto ao senti-lo deixar-me deixada por aqui nos meandros sondáveis da metade insondável da internet. Em todas as revistas femininas, o meu horóscopo prometia um 2004 perfeito. Até agora, sinto-me enganada. O facto de só conseguir nostalgicamente citar o primeiro poeta que li (ou que me leram) prova-o. Que os versos (nem sempre correctamente citados) sejam para o Luís:
«Aparelhei o barco da ilusão/ E reforcei a fé de marinheiro./ Era longe o meu sonho/ e traiçoeiro o mar./ (Só nos é concedida/ Esta vida/ Que temos,/ E é nela que é preciso/ Procurar o velho paraíso/Que perdemos.)// Prestes,/ larguei a vela/ E disse adeus ao cais, à paz tolhida./ Desmedida,/ A revolta imensidão/ Transforma dia a dia a embarcação/ Numa errante e alada sepultura.../ Mas corto as ondas sem desanimar./ Em qualquer aventura./O que importa é partir não é chegar.» Deve ser qualquer coisa muito próxima disto. Não o relembro desde os 16 anos. Mais ou menos. Chama-se «Viagem» e não sei se faz sentido nesta ocasião. Nem sei para qual das partes fará sentido. Mas será o Luís a julgá-lo. IFS
«Aparelhei o barco da ilusão/ E reforcei a fé de marinheiro./ Era longe o meu sonho/ e traiçoeiro o mar./ (Só nos é concedida/ Esta vida/ Que temos,/ E é nela que é preciso/ Procurar o velho paraíso/Que perdemos.)// Prestes,/ larguei a vela/ E disse adeus ao cais, à paz tolhida./ Desmedida,/ A revolta imensidão/ Transforma dia a dia a embarcação/ Numa errante e alada sepultura.../ Mas corto as ondas sem desanimar./ Em qualquer aventura./O que importa é partir não é chegar.» Deve ser qualquer coisa muito próxima disto. Não o relembro desde os 16 anos. Mais ou menos. Chama-se «Viagem» e não sei se faz sentido nesta ocasião. Nem sei para qual das partes fará sentido. Mas será o Luís a julgá-lo. IFS
terça-feira, janeiro 06, 2004
calcorreando as calçadas lisboetas
Regressado da viagem à minha terra, da época de amor e concórdia. A casa, a uma época que luta por não quebrar as promessas feitas, entre um caroço e outro, enquanto outros faziam soar as badaladas. Lisboa continua a cidade da qual tenho saudades quando lá estou. Onde continuo a descobrir novos recantos e recordar experiências vividas. Ao regressar, tenho sempre a sensação de estar a reler um livro que muito me marcou, em que vão desfilando as personagens que fui conhecendo. No teatro cruzei-me com uma amiga da faculdade, no cinema King relembrei fintas épicas no pátio da escola, e, entre um passo e outro, pessoas com quem trabalhei abordam-me para uma troca de histórias passadas. Até o Macário Correia encontrei, esquecido numa fotografia solenemente emoldurada na montra de uma papelaria, lá para os lados do Poço dos Negros. Colegas de blog também vi, ali na Bertrand do Chiado, onde o Nuno Costa Santos, algo intimidado pela proximidade do Saramago, descansava na terceira prateleira a contar de cima. Conversa sobre regressos puxa conversa (são dez!), e fui apresentado à Inês da Fonseca Santos com quem monologuei com prazer sobre a saudade, e continuarei a fazê-lo por cá. Constatei também que os lisboetas continuam a ostentar sinais de uma vida desafogada. Aliás, a quantidade de grandes carros que vi, a passearem o seu preço, demonstra o inquestionável aumento do nível de vida dos portugueses, sem comparação com o que se vê “lá fora”. Já para não falar do facto de ter a impressão de que em Lisboa apenas se constróem prédios de luxo (para alojar a classe média, evidentemente). O que também continua a aumentar são os cocós de cão no passeio, a interromperem deambulações contemplativas. Se calhar, dava um bom tema para os infindáveis telejornais, que durante as suas longas horas de duração vão debitando informações de extrema importância, como por exemplo o segredo do caroço da azeitona (RTP 1, 26 de Dezembro), ao mesmo tempo que os autores de certas peças não conseguem disfarçar a sua queda para os diminutivozinhos carinhosos, legando-nos o jornalismo do “sapatinho” e da “senhora Rosa que vai ter finalmente a sua casinha”. Mas tudo isto faz-me gostar de voltar, de andar de carro na Marginal, ao som dos Smiths e dos Housemartins (graças à Voxx), de ouvir o som dos estores a serem fechados, lembrando-nos que já se faz tarde. Olhem, até gosto de pisar em caca de cão, só pelo prazer de ouvir os mesmos comentários, repetindo-se ano após ano. REC
adeus, até já
Acho mal que o LFB se vá embora do DC. Eu é que costumava fazer isso ao LFB, não ele - deixei uma revista a meio, um programa de televisão a meio... O Luís fazia sempre 769 coisas ao mesmo tempo e normalmente aquilo saía bem feito. Assim, não vale... Acho que temos um jantar marcado para falar destas e de outras coisas.
Por outro lado, é sintomático que se sinta em relação ao DC o que muitos sentem em relação à multinacional em que trabalham - tenho que fugir daqui, não tenho tempo para nada, quero ir fazer surf e estou aqui fechado, em frente a um computador... Isto de facto não deve servir para viver a vida a que se disse não, fechado em escritórios todo o dia e toda a noite, Luís! Assim, vamos ter saudades do compulsivo e genial LFB, mas ele sabe viver para além de um blog e ainda por cima é mais feliz lá fora, onde existe e deseja casar e divorciar-se, viver e morrer, escrever e não escrever, sem o peso do LEITOR e do BLOG e do POST... Afinal, de tudo o que faz e faz, o DC era provavelmente a pior...
MR
Por outro lado, é sintomático que se sinta em relação ao DC o que muitos sentem em relação à multinacional em que trabalham - tenho que fugir daqui, não tenho tempo para nada, quero ir fazer surf e estou aqui fechado, em frente a um computador... Isto de facto não deve servir para viver a vida a que se disse não, fechado em escritórios todo o dia e toda a noite, Luís! Assim, vamos ter saudades do compulsivo e genial LFB, mas ele sabe viver para além de um blog e ainda por cima é mais feliz lá fora, onde existe e deseja casar e divorciar-se, viver e morrer, escrever e não escrever, sem o peso do LEITOR e do BLOG e do POST... Afinal, de tudo o que faz e faz, o DC era provavelmente a pior...
MR
segunda-feira, janeiro 05, 2004
desejo divorciar-me
Tudo tem um fim, menos a salsicha que tem dois.
escrito numa parede da Rua dos Soeiros, Lx
Tomo o título de empréstimo a outros que já o usaram. Despeço-me do DC mais cedo do que pensava. 2003 foi um ano muito cansativo e não quero repeti-lo e blá, blá, blá, trabalho a mais, blá, blá, blá, resolução de ano novo, blá, blá, blá, divórcio amigável, blá, blá.
Resolvi despedir-me com uma catrefada de posts que são um resumo dos meus 8 meses de blogosfera: ora humor, ora sensibilidade, uns gramas de onanismo e outro tanto de enchimento de chouriços. O post anterior, sobre o Alex, é também excelente exemplo de um dos motivos que me levam a acabar aqui a aventura. Uma história como essa poderia dar um conto, uma crónica, podia estar num romance.
Preciso de descanso, espaço e de respeitar aquilo que escrevo.
Deixo-vos sem responder a uma provocação do Luís Osório. Bem, em traços gerais, ele tem razão no que disse e pode provocar-me quando quiser. É meu amigo, meu "pai profissional", e um dos poucos génios portugueses.
Este será, de facto, o ano da confirmação para os blogs. Ficarão os melhores. Aqui ficam os meus favorites:
Miguel Nogueira, Zé Mário Silva, Joel Neto, Pedro Mexia, Francisco José Viegas, Zé Diogo Quintela, Luís Camilo-Alves, Hugo Gonçalves, Pedro Adão e Silva e Filipe Nunes, Rita FR.
Caros casadoiros,
fico-me pelo "DC alternativo", a combinar jantares - como o das 100.000 visitas, no Porto - e a ler-vos diariamente. De resto, e no que diz respeito a hobbies, fico com a encenação dos "Hipócritas", com a iniciação ao surf no sol de inverno de Vila Nova de Milfontes, com a bola às sextas-feiras, com os meus sonhos em línguas estrangeiras e com o desejo de, quando for grande, ser o Hugh Grant. Força nisso e até ao próximo copázio. LFB
escrito numa parede da Rua dos Soeiros, Lx
Tomo o título de empréstimo a outros que já o usaram. Despeço-me do DC mais cedo do que pensava. 2003 foi um ano muito cansativo e não quero repeti-lo e blá, blá, blá, trabalho a mais, blá, blá, blá, resolução de ano novo, blá, blá, blá, divórcio amigável, blá, blá.
Resolvi despedir-me com uma catrefada de posts que são um resumo dos meus 8 meses de blogosfera: ora humor, ora sensibilidade, uns gramas de onanismo e outro tanto de enchimento de chouriços. O post anterior, sobre o Alex, é também excelente exemplo de um dos motivos que me levam a acabar aqui a aventura. Uma história como essa poderia dar um conto, uma crónica, podia estar num romance.
Preciso de descanso, espaço e de respeitar aquilo que escrevo.
Deixo-vos sem responder a uma provocação do Luís Osório. Bem, em traços gerais, ele tem razão no que disse e pode provocar-me quando quiser. É meu amigo, meu "pai profissional", e um dos poucos génios portugueses.
Este será, de facto, o ano da confirmação para os blogs. Ficarão os melhores. Aqui ficam os meus favorites:
Miguel Nogueira, Zé Mário Silva, Joel Neto, Pedro Mexia, Francisco José Viegas, Zé Diogo Quintela, Luís Camilo-Alves, Hugo Gonçalves, Pedro Adão e Silva e Filipe Nunes, Rita FR.
Caros casadoiros,
fico-me pelo "DC alternativo", a combinar jantares - como o das 100.000 visitas, no Porto - e a ler-vos diariamente. De resto, e no que diz respeito a hobbies, fico com a encenação dos "Hipócritas", com a iniciação ao surf no sol de inverno de Vila Nova de Milfontes, com a bola às sextas-feiras, com os meus sonhos em línguas estrangeiras e com o desejo de, quando for grande, ser o Hugh Grant. Força nisso e até ao próximo copázio. LFB
amigo de alex
Conheci o Alex às 3 da manhã de 2 de Novembro, depois da festa de anos do meu irmão, Alexandre. Fumava um cigarro junto ao meu carro quando o Alex surgiu. Vinha bem vestido mas cambaleante, com um violão a tiracolo.
Primeiro pediu uns trocos, depois perguntou se estava perto da Feira da Ladra e depois perguntou-me se lhe dava 30 contos pela viola. Eu não percebo nada de música. Não toco nenhum instrumento. Mas era uma bonita viola e fiquei tentado. Talvez para oferecê-la ao meu irmão, que aprendeu a tocar sozinho. Para me convencer, o Alex, um mariachi moçambicano, sacou da sua bela viola e começou a tocar e a cantar.
Não a comprei. O Alex era bom demais para se desfazer da sua viola. Dei-lhe os trocos que me restavam da noite de copos e desejei, em silêncio, que ele não se desfizesse do violão.
Foi quando ele me pediu para lhe dar uma boleia até à Feira. Não sei o que terá sido. Talvez por ter o mesmo nome do meu irmão. Talvez por tocar e cantar tão bem. Mas aceitei, sem pensar duas vezes. Só dentro do carro é que me ocorreu que o Alex, bem mais alto do que eu, podia dar-me uma facada e - no mínimo - levar a minha carteira do tablier.
Mas não foi assim. Eu é que não consigo acreditar na bondade intrínseca do ser humano. Talvez à noite se abram excepções -
Fomos a conversar sobre Moçambique, sobre a namorada que o Alex deixou lá, sobre o facto de estar desempregado e ser seropositivo.
Custou-me deixá-lo na Feira da Ladra, ainda noite cerrada, com o seu ar cambaleante e o magnífico violão. A desejar apenas que não se desfizesse dele e fosse tocar no Metro para ganhar algum dinheiro. E que a namorada voltasse, com o sol de Moçambique, e o orientasse nas ruas de Lisboa.
Uma semana depois, passei por acaso no mesmo local onde me despedi do Alex. Havia uma vela acesa e um ramo de flores depositado no chão. Sou capaz de jurar que estavam no exacto sítio onde o Alex ficou. Talvez ela tenha voltado tarde demais. Ou o Alex tenha vendido o violão que parecia trazer consigo desde a nascença. Ou outra coisa qualquer, uma morte anónima que tomou o seu lugar, ou -
LFB
Primeiro pediu uns trocos, depois perguntou se estava perto da Feira da Ladra e depois perguntou-me se lhe dava 30 contos pela viola. Eu não percebo nada de música. Não toco nenhum instrumento. Mas era uma bonita viola e fiquei tentado. Talvez para oferecê-la ao meu irmão, que aprendeu a tocar sozinho. Para me convencer, o Alex, um mariachi moçambicano, sacou da sua bela viola e começou a tocar e a cantar.
Não a comprei. O Alex era bom demais para se desfazer da sua viola. Dei-lhe os trocos que me restavam da noite de copos e desejei, em silêncio, que ele não se desfizesse do violão.
Foi quando ele me pediu para lhe dar uma boleia até à Feira. Não sei o que terá sido. Talvez por ter o mesmo nome do meu irmão. Talvez por tocar e cantar tão bem. Mas aceitei, sem pensar duas vezes. Só dentro do carro é que me ocorreu que o Alex, bem mais alto do que eu, podia dar-me uma facada e - no mínimo - levar a minha carteira do tablier.
Mas não foi assim. Eu é que não consigo acreditar na bondade intrínseca do ser humano. Talvez à noite se abram excepções -
Fomos a conversar sobre Moçambique, sobre a namorada que o Alex deixou lá, sobre o facto de estar desempregado e ser seropositivo.
Custou-me deixá-lo na Feira da Ladra, ainda noite cerrada, com o seu ar cambaleante e o magnífico violão. A desejar apenas que não se desfizesse dele e fosse tocar no Metro para ganhar algum dinheiro. E que a namorada voltasse, com o sol de Moçambique, e o orientasse nas ruas de Lisboa.
Uma semana depois, passei por acaso no mesmo local onde me despedi do Alex. Havia uma vela acesa e um ramo de flores depositado no chão. Sou capaz de jurar que estavam no exacto sítio onde o Alex ficou. Talvez ela tenha voltado tarde demais. Ou o Alex tenha vendido o violão que parecia trazer consigo desde a nascença. Ou outra coisa qualquer, uma morte anónima que tomou o seu lugar, ou -
LFB
almodóvar não mora aqui
Quase todos os dias, almoço com colegas de trabalho num restaurante do outro lado da rua, onde somos atendidos por um travesti. O homem tem maquilhagem, tem mamas, e dá bitaites aqui e ali sobre projectos da empresa que se discutem ao almoço.
Mas, sempre que consigo evitar o pensamento "Onde terá ele andado com as mãos antes de me servir os filetes?" - penso que o que me perturba não é o Paulinho, ou "Diane L'Amour", personagem bem simpática, por sinal. O que me atormenta é ser atendido por um travesti feliz. Bem mais feliz do que eu. LFB
Mas, sempre que consigo evitar o pensamento "Onde terá ele andado com as mãos antes de me servir os filetes?" - penso que o que me perturba não é o Paulinho, ou "Diane L'Amour", personagem bem simpática, por sinal. O que me atormenta é ser atendido por um travesti feliz. Bem mais feliz do que eu. LFB
contradictio in terminis
Um benfiquista optimista. LFB
Ó pai, vê.
Durante cerca de um mês, os cartazes de Stand-Up Tragedy estiveram em todo o lado de Lisboa. O meu pai, que vive nos Açores, esteve por cá e assistiu a um dos últimos espectáculos.
Mas não foi o facto de ele ter gostado que mais me satisfez, nem sequer por ter sido a primeira vez que viu um espectáculo meu. Não, foi uns dias antes, quando passeavámos junto ao hotel e - como um menino em busca de aprovação - chamei a atenção dele para o meu nome num cartaz da Alameda. Não é apenas uma imagem. Foi tal e qual como uma criança que não se lembra da última vez que andou de mão dada com o seu pai. LFB
Mas não foi o facto de ele ter gostado que mais me satisfez, nem sequer por ter sido a primeira vez que viu um espectáculo meu. Não, foi uns dias antes, quando passeavámos junto ao hotel e - como um menino em busca de aprovação - chamei a atenção dele para o meu nome num cartaz da Alameda. Não é apenas uma imagem. Foi tal e qual como uma criança que não se lembra da última vez que andou de mão dada com o seu pai. LFB
workshop de improvisação com taxistas
Tenho um dilema por resolver. Uma costela de actor mal realizada que me atormenta. Um dos raros bálsamos que encontro é apanhar um táxi. Explico: 9 em cada 10 taxistas quer conversa. E de cada vez que entramos num táxi é-nos oferecida a oportunidade de inventar uma vida. O taxista não sabe quem somos e, dele, só queremos que nos leve ao destino pelo caminho mais curto e rápido possível.
Por isso pratico: já tive dezenas de nomes diferentes, já fui casado, divorciado e bígamo, já tive meia dúzia de filhos, um deles gay, e já adoptei um preto só para atrapalhar o facho do volante. Já fui cientista, júnior do Benfica, padre e trapezista. Até já fui um americano que namorava a Isabel Figueira. E só pergunto: quando é que a ANTRAL me manda o Óscar para casa? LFB
Por isso pratico: já tive dezenas de nomes diferentes, já fui casado, divorciado e bígamo, já tive meia dúzia de filhos, um deles gay, e já adoptei um preto só para atrapalhar o facho do volante. Já fui cientista, júnior do Benfica, padre e trapezista. Até já fui um americano que namorava a Isabel Figueira. E só pergunto: quando é que a ANTRAL me manda o Óscar para casa? LFB
gosto de contar com orgulho que
sou licenciado em Direito mas a única vez que estive num tribunal foi como arguido. LFB
o parodiante de Lisboa
O meu irmão passou dois anos em tratamentos infrutíferos, no intuito de resolver um problema com o número de plaquetas no sangue. Acabou por tirar o baço e resolver o problema. Durante semanas ouviu este tipo de piadas:
"Tirou o baço? Bela maneira de emagrecer sem esforço!", "O baço? Óptimo! Quer dizer que ficou muito mais nítido.", "Coitado... Mas tirou o baço esquerdo ou o baço direito?"
Mas, mais importante do que isto - só a saúde, claro - e a curiosa ironia da vida. É que o trabalho dele é editar os diários da "Operação Triunfo", na Gestmusic. E a operação ao baço foi um êxito... LFB
"Tirou o baço? Bela maneira de emagrecer sem esforço!", "O baço? Óptimo! Quer dizer que ficou muito mais nítido.", "Coitado... Mas tirou o baço esquerdo ou o baço direito?"
Mas, mais importante do que isto - só a saúde, claro - e a curiosa ironia da vida. É que o trabalho dele é editar os diários da "Operação Triunfo", na Gestmusic. E a operação ao baço foi um êxito... LFB
post perfeitamente confessional e intimista, bastante ingénuo e sobretudo irrelevante
Não fosse a minha educação católica e o relativo jeito para outras coisas que me dão dinheiro, e teria seguido a carreira de actor porno. Sim, é só. LFB
dúvidas existenciais de início de ano
1. Souto Moura não será bisneto de Groucho Marx?
2. José Castelo-Branco tem ou não tem a mesma cara que Michael Jackson em 1985?
3. Não serão os Câmara Pereira os Baldwyn portugueses? Não se poderão exterminar uns e outros? Ou uns aos outros? Trinados de tirolês bebâdo contra canastrice pura e dura?
4. Vítor Baía não será o filho efeminado de Gregory Peck?
5. João Pereira Coutinho um Pacheco Pereira em fase de girino?
6. Carlos Castro o filho bastardo de Fidel Castro?
7. E os portugueses em geral um clone fajuto dos espanhóis, a quem faltou implantar o chip do orgulho?
Pensem nisto. LFB
2. José Castelo-Branco tem ou não tem a mesma cara que Michael Jackson em 1985?
3. Não serão os Câmara Pereira os Baldwyn portugueses? Não se poderão exterminar uns e outros? Ou uns aos outros? Trinados de tirolês bebâdo contra canastrice pura e dura?
4. Vítor Baía não será o filho efeminado de Gregory Peck?
5. João Pereira Coutinho um Pacheco Pereira em fase de girino?
6. Carlos Castro o filho bastardo de Fidel Castro?
7. E os portugueses em geral um clone fajuto dos espanhóis, a quem faltou implantar o chip do orgulho?
Pensem nisto. LFB
mistério
Ana Lamy, simpática ex-colega de José Carlos Malato (o irmão anafado de Fernando Pereira) constitui um dos maiores mistérios dos media portugueses: é a única mulher da rádio que só tem trabalho por ser boa. LFB