sábado, novembro 01, 2003
dizer bem
De vez em quando, é bom dizer bem de uma coisa da qual sempre se disse mal - no caso, a Faculdade de Direito de Lisboa. Não, obviamente, dizer bem do seu conselho directivo, do seu passado de repressão, da sua prepotência intelectual. Mas dizer bem de coisas simples e bonitas e importantes, como professores e estudantes. Tenho-me sentido nesta obrigação adicional também motivado por duas semanas de trabalho intenso e divertido com uma colega de trabalho, noutro local, que é bonita, inteligente e com quem apetece ficar a rever o Código Penal até às duas da manhã, mas é licenciada pela concorrência e acha que a FDL é um misto de inquisição espanhola com traduções brasileiras do Mein Kampf.
Assim, para contar que este ano tenho 20 alunos a Direito Romano, 20 alunos que não sonham em ganhar milhões em consultoras fiscais, 20 alunos que têm a coragem de fugir dos artigos e das alíneas para pensar o direito naquilo que é a sua lógica de justiça e de humanidade. Eles têm um professor (e eu também, de quem sou sempre deslumbrado assistente) que é um homem extraordinário e que decidiu por os alunos a pensar o "ius" e a sua relação com a "humanitas", a propósito do Direito Romano. Como? Fazendo teatro, dando corpo aos livros, divertindo-se. Vamos passar um semestre a preparar uma peça, coisa que não me acontecia desde o ciclo. Vamos escrevê-la, encená-la, apresentá-la. Não sei se tenho naquela sala Uma Thurman's em potência (se calhar tenho...), mas isso não interessa - o que interessa é esta possibilidade de nos rirmos uns com os outros, esta possibilidade de fazer amor ("amor iuris", bem entendido) entre as paredes da FDL e de sair da sala com um sorriso, enquanto nos cruzamos com alguém carregado de volumes de legislação do urbanismo... MR
Assim, para contar que este ano tenho 20 alunos a Direito Romano, 20 alunos que não sonham em ganhar milhões em consultoras fiscais, 20 alunos que têm a coragem de fugir dos artigos e das alíneas para pensar o direito naquilo que é a sua lógica de justiça e de humanidade. Eles têm um professor (e eu também, de quem sou sempre deslumbrado assistente) que é um homem extraordinário e que decidiu por os alunos a pensar o "ius" e a sua relação com a "humanitas", a propósito do Direito Romano. Como? Fazendo teatro, dando corpo aos livros, divertindo-se. Vamos passar um semestre a preparar uma peça, coisa que não me acontecia desde o ciclo. Vamos escrevê-la, encená-la, apresentá-la. Não sei se tenho naquela sala Uma Thurman's em potência (se calhar tenho...), mas isso não interessa - o que interessa é esta possibilidade de nos rirmos uns com os outros, esta possibilidade de fazer amor ("amor iuris", bem entendido) entre as paredes da FDL e de sair da sala com um sorriso, enquanto nos cruzamos com alguém carregado de volumes de legislação do urbanismo... MR
sexta-feira, outubro 31, 2003
Estereotipada como todas as mulheres!
Este chavão que aqui quis emoldurar, foi-me mimoseado esta semana pelo Comprometido Espectador, um blogger de ar insuspeito, na aparência mesmo um gentleman.
E porquê? Porque lhe faço uma simpática referência no meu post sobre a festa do Pipi. E qual o seu objectivo? Dar umas palmadas nas costas dos rapazes do Complot que eu, também, simpaticamente referi, atropelando pelo caminho uma e todas as senhoras. Bonito, sim senhor!
Já não há cavalheiros. CMC
E porquê? Porque lhe faço uma simpática referência no meu post sobre a festa do Pipi. E qual o seu objectivo? Dar umas palmadas nas costas dos rapazes do Complot que eu, também, simpaticamente referi, atropelando pelo caminho uma e todas as senhoras. Bonito, sim senhor!
Já não há cavalheiros. CMC
quinta-feira, outubro 30, 2003
O coração do Luís
Meu caro amigo Luís Borges,
Conhecendo-te como conheço, sei que és um homem que quase sempre se deixa reger pelo coração. Por isso, não percebo por que é que continuas a dar ouvidos à razão.
Um abraço do Hugo.
HR
Conhecendo-te como conheço, sei que és um homem que quase sempre se deixa reger pelo coração. Por isso, não percebo por que é que continuas a dar ouvidos à razão.
Um abraço do Hugo.
HR
Por mais voltas que se dê, sempre se falará de futebol
1. Em recente entrevista ao DN, o candidato às eleições presidenciais do Benfica, Luís Filipe Vieira, esclareceu algumas dúvidas que eu tinha. A primeira delas tinha a ver com o seu percurso profissional - fiquei a saber que dos pneus passou para a construção civil, da construção civil pasou para o Alverca, do Alverca para o Benfica, como Presidente da SAD, e, se desgraçadamente Deus quiser, de Presidente da SAD do Benfica para a presidência absoluta do clube. Depois disto, só lhe resta candidatar-se a presidente do FC Porto.
A segunda das minhas dúvidas tinha a ver com saber por que razão alguém votaria neste senhor - ora, Luís Filipe esclareceu que só quer que os sócios votem em massa, nele ou noutro candidato. "Se não quiserem votar em mim", disse, "estão à vontade". Ainda bem, aposto que muitos sócios já estavam angustiados, sem saber o que fazer. Agora sabem que podem ficar à vontade, que o Luís Filipe deixa. Mas atenção: o senhor também sublinhou que as outras alternativas à presidência, Guerra Madaleno e Jaime Antunes, só se disponibilizaram a trazer, até agora, o jogador Rui Costa e a gestão, respectivamente. Quanto a Rui Costa, estamos conversados. É um eterno prometido dos candidatos e acaba sempre por não vir, como seria de esperar. Afinal, quem é que troca os salários pagos pela Fiorentina ou pelo AC Milan pelos salários pagos pelo Benfica? Só não percebo por que razão Rui Costa deixa que o seu nome se envolva, eleição após eleição, nas promessas dos candidatos. E quanto à "gestão", que Luís Filipe diz ser a única coisa que Jaime Antunes poderia trazer ao Benfica, resta bradar aos céus. Pois, Jaime Antunes SÓ traria gestão, exactamente o que falta ao clube para sair do marasmo financeiro e desportivo em que vive há alguns anos.
Para concluir esta questão de saber por quê votar no senhor, Luís Filipe afirma: "Não me passava pela cabeça ser presidente do Benfica". A mim também não. Do discurso de Luís Filipe Vieira não ressalta nenhuma ideia-chave, nenhum projecto para o futuro, para além da incontornável afirmação de que aquilo que se pretende é construir a melhor equipa da Europa. Luís Filipe esquece-se que anos-luz à frente do Benfica já estão muitos clubes das ligas inglesa, espanhola, italiana, francesa, alemã, talvez mesmo da liga holandesa. Vamos ter de esperar muito tempo, portanto.
A terceira dúvida prendia-se com as contas do clube, com o activo e o passivo e com a rentabilidade da SAD. Luís Filipe tem a resposta na ponta da língua: "se perguntar hoje se eu amanhã estou morto ou vivo, não sei...". Que é como quem diz, num futuro (próximo, longuínquo?) pode haver ou não rentabilidade, ninguém sabe.
Quarta dúvida: quem são, afinal, Ronald Garcia e Alex? Por que razão foram estes dois jogadores comprados, e não quaisquer outros, bem melhores, como o Hugo Cunha, do Vitória de Guimarães? Luís Filipe afirma, contudo, que "qualquer jogador que veio para o Benfica foi com a autorização da equipa técnica", mas fica por saber se o Alex veio ou não por indicação de José Antóno Camacho. Quanto ao boliviano Ronald Garcia, Luís Filipe diz que foi "diferente". "Eu era ainda era presidente do Alverca e Manuel Vilarinho pediu-me o favor de ser o Alverca a interferir na compra do jogador (...), para não haver inflação do valor do passe do atleta. Aqui, é verdade. Camacho não foi tido nem achado. Apenas servi para fazer um favor ao meu actual presidente, eu nem conhecia o jogador". Nem ele, nem ninguém.
Desfeitas as minhas dúvidas, guardei o jornal e nunca mais me desfiz dele.
2. O novo estádio do Sport Lisboa e Benfica é, realmente, extraordinário. Basta ver o poster que vinha ontem incluído na revista Focus para ficarmos com um visão global da magnífica catedral. Mas o estádio do Dragão (o nome é não só assustador, como pavoroso) tinha de ser melhor, mais bonito, arquitectonicamente mais bem conseguido. O estádio está ainda por concluir, mas Miguel Sousa Tavares, qual arquitecto, logo viu ali algo de muito mais imponente do que o novo estádio da Luz. Uma vez portista, sempre portista.
HR
A segunda das minhas dúvidas tinha a ver com saber por que razão alguém votaria neste senhor - ora, Luís Filipe esclareceu que só quer que os sócios votem em massa, nele ou noutro candidato. "Se não quiserem votar em mim", disse, "estão à vontade". Ainda bem, aposto que muitos sócios já estavam angustiados, sem saber o que fazer. Agora sabem que podem ficar à vontade, que o Luís Filipe deixa. Mas atenção: o senhor também sublinhou que as outras alternativas à presidência, Guerra Madaleno e Jaime Antunes, só se disponibilizaram a trazer, até agora, o jogador Rui Costa e a gestão, respectivamente. Quanto a Rui Costa, estamos conversados. É um eterno prometido dos candidatos e acaba sempre por não vir, como seria de esperar. Afinal, quem é que troca os salários pagos pela Fiorentina ou pelo AC Milan pelos salários pagos pelo Benfica? Só não percebo por que razão Rui Costa deixa que o seu nome se envolva, eleição após eleição, nas promessas dos candidatos. E quanto à "gestão", que Luís Filipe diz ser a única coisa que Jaime Antunes poderia trazer ao Benfica, resta bradar aos céus. Pois, Jaime Antunes SÓ traria gestão, exactamente o que falta ao clube para sair do marasmo financeiro e desportivo em que vive há alguns anos.
Para concluir esta questão de saber por quê votar no senhor, Luís Filipe afirma: "Não me passava pela cabeça ser presidente do Benfica". A mim também não. Do discurso de Luís Filipe Vieira não ressalta nenhuma ideia-chave, nenhum projecto para o futuro, para além da incontornável afirmação de que aquilo que se pretende é construir a melhor equipa da Europa. Luís Filipe esquece-se que anos-luz à frente do Benfica já estão muitos clubes das ligas inglesa, espanhola, italiana, francesa, alemã, talvez mesmo da liga holandesa. Vamos ter de esperar muito tempo, portanto.
A terceira dúvida prendia-se com as contas do clube, com o activo e o passivo e com a rentabilidade da SAD. Luís Filipe tem a resposta na ponta da língua: "se perguntar hoje se eu amanhã estou morto ou vivo, não sei...". Que é como quem diz, num futuro (próximo, longuínquo?) pode haver ou não rentabilidade, ninguém sabe.
Quarta dúvida: quem são, afinal, Ronald Garcia e Alex? Por que razão foram estes dois jogadores comprados, e não quaisquer outros, bem melhores, como o Hugo Cunha, do Vitória de Guimarães? Luís Filipe afirma, contudo, que "qualquer jogador que veio para o Benfica foi com a autorização da equipa técnica", mas fica por saber se o Alex veio ou não por indicação de José Antóno Camacho. Quanto ao boliviano Ronald Garcia, Luís Filipe diz que foi "diferente". "Eu era ainda era presidente do Alverca e Manuel Vilarinho pediu-me o favor de ser o Alverca a interferir na compra do jogador (...), para não haver inflação do valor do passe do atleta. Aqui, é verdade. Camacho não foi tido nem achado. Apenas servi para fazer um favor ao meu actual presidente, eu nem conhecia o jogador". Nem ele, nem ninguém.
Desfeitas as minhas dúvidas, guardei o jornal e nunca mais me desfiz dele.
2. O novo estádio do Sport Lisboa e Benfica é, realmente, extraordinário. Basta ver o poster que vinha ontem incluído na revista Focus para ficarmos com um visão global da magnífica catedral. Mas o estádio do Dragão (o nome é não só assustador, como pavoroso) tinha de ser melhor, mais bonito, arquitectonicamente mais bem conseguido. O estádio está ainda por concluir, mas Miguel Sousa Tavares, qual arquitecto, logo viu ali algo de muito mais imponente do que o novo estádio da Luz. Uma vez portista, sempre portista.
HR
a importância dos odores
Há uns anos, antes de ter carro, passava pelo horror das horas de ponta em transportes públicos. Sensação dolorosa e opressiva que me inspirava desejos de filiação no PP. Depois, e como nem todos os dias são felizes, fui conhecendo pessoas desse partido. Com excepção das suas poucas mulheres, sempre estranhei o asco que me provocavam (os homens). Julgo que começo a perceber. É que, entre charutos e perfumes caríssimos, o odor dos tecidos ingleses e sapatos italianos, e o suor do zé-povinho entranhado no 52 que vai para a Pontinha... meus amigos, prefiro o autocarro. LFB
ps: e cada vez tenho mais certezas de que posso ter a razão à direita, mas o coração está à esquerda.
ps: e cada vez tenho mais certezas de que posso ter a razão à direita, mas o coração está à esquerda.
quarta-feira, outubro 29, 2003
Tocar
Há pessoas que têm medo de tocar. Há pessoas irritantes, que dão apertos de mão frouxos, vazios. Há vários tipos de pessoas. E, para algumas, a maneira como nos tocam é uma assinatura. É um gesto simbólico que diz do que sentem por nós. Que digo? É um prémio. Sim, por vezes é mesmo um prémio.
Penso nisto depois de fumar um cigarro à chuva (informação perfeitamente inútil e que só podia estar num blog).
E penso que pessoas há que não posso deixar de ver sem tocar, pelo menos uma vez. Por exemplo, os fortíssimos, calorosos "high-fives" de mão toda aberta que troco com o Nuno, quando sai, e com o Tiago, quando chega. O aperto de mão cada vez mais vigoroso, com os ossos todos, que eu e o meu irmão damos. Os beijos perigosamente perto da boca, e com uma mão pousada no rosto, que se trocam às vezes com as poucas amigas que os homens têm. O abraço caloroso do Joel, sempre. A mão sobre o ombro das pessoas que admiro e com quem trabalho, quando se diz "bom dia" ou "até amanhã". O beijo no rosto do meu pai, que substitui a benção que pedia respeitosamente na infância. Os beijos da minha mãe, que cheira a bebé. A mão no braço dos actores com quem trabalho, para suportar choro ou nervos ou momentos de insegurança, dizendo que estou ali e que sou, afinal, mais actor amador do que eles, a tentar disfarçar a minha própria insegurança. O aperto de mão prolongado que se dá àqueles amigos sinceros, mas que só vemos de tempos a tempos. O beijo frio a uma mulher que se reencontra depois de, algures no neolítico superior, juntos termos partilhado toda a intimidade. Os dois beijinhos ambiguamente lentos a uma mulher que gostámos de conhecer. O beijo de fugida a alguém que foge. O beijo de olhos fechados para uma pessoa só. O abraço de velhos amigos, como o Hugo. Um abraço que tem tudo o que falta a um livro. Calor. O clap depois de um grande golo. Os joelhos juntos de um homem e uma mulher que não sabem bem o que querem um do outro. Mas desconfiam. A palmada nas costas ao companheiro de borgas.
Cada toque é um toque contra o tic-tac do relógio. Um tique de sinceridade. E, para evitar mais cacofonias, do tipo "tacada no trecolareco da ternura", volto à chuva para o último cigarro do dia. Faz-se tarde. tic tac tic tac LFB
Penso nisto depois de fumar um cigarro à chuva (informação perfeitamente inútil e que só podia estar num blog).
E penso que pessoas há que não posso deixar de ver sem tocar, pelo menos uma vez. Por exemplo, os fortíssimos, calorosos "high-fives" de mão toda aberta que troco com o Nuno, quando sai, e com o Tiago, quando chega. O aperto de mão cada vez mais vigoroso, com os ossos todos, que eu e o meu irmão damos. Os beijos perigosamente perto da boca, e com uma mão pousada no rosto, que se trocam às vezes com as poucas amigas que os homens têm. O abraço caloroso do Joel, sempre. A mão sobre o ombro das pessoas que admiro e com quem trabalho, quando se diz "bom dia" ou "até amanhã". O beijo no rosto do meu pai, que substitui a benção que pedia respeitosamente na infância. Os beijos da minha mãe, que cheira a bebé. A mão no braço dos actores com quem trabalho, para suportar choro ou nervos ou momentos de insegurança, dizendo que estou ali e que sou, afinal, mais actor amador do que eles, a tentar disfarçar a minha própria insegurança. O aperto de mão prolongado que se dá àqueles amigos sinceros, mas que só vemos de tempos a tempos. O beijo frio a uma mulher que se reencontra depois de, algures no neolítico superior, juntos termos partilhado toda a intimidade. Os dois beijinhos ambiguamente lentos a uma mulher que gostámos de conhecer. O beijo de fugida a alguém que foge. O beijo de olhos fechados para uma pessoa só. O abraço de velhos amigos, como o Hugo. Um abraço que tem tudo o que falta a um livro. Calor. O clap depois de um grande golo. Os joelhos juntos de um homem e uma mulher que não sabem bem o que querem um do outro. Mas desconfiam. A palmada nas costas ao companheiro de borgas.
Cada toque é um toque contra o tic-tac do relógio. Um tique de sinceridade. E, para evitar mais cacofonias, do tipo "tacada no trecolareco da ternura", volto à chuva para o último cigarro do dia. Faz-se tarde. tic tac tic tac LFB
Encontro de Blogues
É já amanhã, quinta-feira, pelas 15h00 seguido de debate pelas 19h00, na Sociedade de Geografia, o encontro sobre blogues: "Blogues: moda efémera ou meio de comunicação futuro"?
Confirmadas estão as presenças de Pedro Mexia, Pedro Lomba, José Mário Silva, Statler, Ricardo Araújo Pereira e Paulo Querido.
Para mais informações e caso queira fazer uma inscrição informal vá a este endereço: www.disogeo.blogspot.com.CMC
Confirmadas estão as presenças de Pedro Mexia, Pedro Lomba, José Mário Silva, Statler, Ricardo Araújo Pereira e Paulo Querido.
Para mais informações e caso queira fazer uma inscrição informal vá a este endereço: www.disogeo.blogspot.com.CMC
terça-feira, outubro 28, 2003
Abel, Caim e Bento
Na Faculdade de Direito de Lisboa, os exames que enriqueciam o nosso Verão tinham uma parte de perguntas teóricas e outra de resolução de casos práticos que narravam as desventuras jurídicas do Abel e do Bento, sempre envolvidos em problemas com a lei. Eram períodos de muita tensão e desespero, que advinham não da impossibilidade de resolver o quid juris?, mas, acima de tudo, da sensação de perda da esperança. Da secreta esperança, partilhada pelos sentados numa sala bafienta com a marca que o crucifixo deixou na parede a velar por nós, de que, em nome de uma certa originalidade, o Abel, apenas por um dia, se chamasse Amarildo, e o Bento Bruno, Barnabé ou Bernardo. Mas os professores mantiveram-se firmes, afinal existe uma nobre tradição a defender. Vi as melhores mentes jurídicas da minha geração destruídas pela simples menção destes nomes. REC
segunda-feira, outubro 27, 2003
STAND-UP TRAGEDY, novo link, os mesmos 3
STAND-UP TRAGEDY é o espectáculo definitivo na carreira de um grande comediante português. A solo, perante o público, um actor desafia as leis do humor e descobre-se a si próprio na solidão do palco. Estreia no Teatro Maria Matos, em Lisboa, a 20 de Novembro de 2003, às 21h30.
E, pela primeira vez em Portugal, um projecto de teatro tem o seu próprio blog. Além de oficina de escrita e de reflexão para a criação do espectáculo, este é também um espaço para contar histórias sobre o humor.
Neste blog, alimentado pelos autores e pelo actor de STAND-UP TRAGEDY, poderá saber mais sobre a personagem que dá origem a esta peça de teatro. Ou descobrir como estão a correr os ensaios e quem é a equipa por trás deste projecto. Também poderá ler textos e ideias sobre a comédia na escrita, no teatro e no cinema. Eventualmente, até terá oportunidade de rir.
Este é o texto que abre o novo blog que encabeça a lista da direita no DC. Eu, o TR, e o NCS, esperamos por vocês mesmo aqui ao lado.LFB
E, pela primeira vez em Portugal, um projecto de teatro tem o seu próprio blog. Além de oficina de escrita e de reflexão para a criação do espectáculo, este é também um espaço para contar histórias sobre o humor.
Neste blog, alimentado pelos autores e pelo actor de STAND-UP TRAGEDY, poderá saber mais sobre a personagem que dá origem a esta peça de teatro. Ou descobrir como estão a correr os ensaios e quem é a equipa por trás deste projecto. Também poderá ler textos e ideias sobre a comédia na escrita, no teatro e no cinema. Eventualmente, até terá oportunidade de rir.
Este é o texto que abre o novo blog que encabeça a lista da direita no DC. Eu, o TR, e o NCS, esperamos por vocês mesmo aqui ao lado.LFB
BELLE & SEBASTIAN forever
João Lisboa escreveu (EXPRESSO de 25 de Outubro) que os escoceses Belle & Sebastian (nome dado a partir dos velinhos desenhos animados) são uma banda «xoninhas» e «mariquinhas», e desmontou as 12 canções do último disco da banda, "Dear Catastrophe Waitress", produzido - uma surpresa - por Trevor Horn e gravado para a Rough Trade, em vez da Jeepster Records.
Agradecia que João Lisboa revisitasse os outros LPs e singles dos Belle & Sebastian - sei que vai dar muito trabalho -, de 1996 até hoje, e fizesse o mesmo com as outras canções, que as deitasse por terra, desfazendo letra e música a torto e a direito. Agradecia que fizesse isto e que concluísse, enfim, que todo o material dos escoceses é mesmo só plágio e pouco mais.
É que, de 96 até agora, tenho estado iludido e tenho sido enganado; não percebo como pude ser tão ingénuo. Infelizes seguidores e adoradores da banda, desistam e ouçam o sábio João Lisboa.
Especialmente para ele:
«Think about a new destination
If you think you need inspiration
Roll out the map and mark it with a pin
I will follow every direction
Just lace up your shoe while I´m fetching a sleeping
bag, a tent ...»
Belle & Sebastian, "Asleep on a sunbeam"
HR
Agradecia que João Lisboa revisitasse os outros LPs e singles dos Belle & Sebastian - sei que vai dar muito trabalho -, de 1996 até hoje, e fizesse o mesmo com as outras canções, que as deitasse por terra, desfazendo letra e música a torto e a direito. Agradecia que fizesse isto e que concluísse, enfim, que todo o material dos escoceses é mesmo só plágio e pouco mais.
É que, de 96 até agora, tenho estado iludido e tenho sido enganado; não percebo como pude ser tão ingénuo. Infelizes seguidores e adoradores da banda, desistam e ouçam o sábio João Lisboa.
Especialmente para ele:
«Think about a new destination
If you think you need inspiration
Roll out the map and mark it with a pin
I will follow every direction
Just lace up your shoe while I´m fetching a sleeping
bag, a tent ...»
Belle & Sebastian, "Asleep on a sunbeam"
HR
É bom
verificar que o excelente RAP, farto de desoPIPIlar voltou a dar umas miadelas. Continua, humor com inteligência e cultura, fora o vosso fedor, infelizmente não abunda! BR
O mesmo problema
O excerto que vou transcrever faz parte do editorial do Le Monde de 26 de Agosto. Não traduzo para português porque dá muito trabalho.
Trata-se, repito, do editorial do Le Monde, mas podia perfeitamente ser um editorial de um jornal português. Se tivesse sido escrito em português, claro.
«S´ils en doutaient, voilá donc les socialistes prévenus, à quelques jours de leur université d´été: la gauche reste à réinventer. Tout indique que la tâche sera rude tant l´opposition paraît, aujourd´hui, dispersée, morcelée, illisible, impuissante à réunir dans une dynamique commune le réalisme sans lequel elle ne peut espérer retrouver le chemin du pouvoir et les impatiences multiples de ce qu´il est convenu d´appeler le "mouvement social".
(...) les socialistes se doivent, selon la formule de Daniel Cohn-Bendit, d´"assumer leur réformisme sans désespérer le Larzac". C´est la condition de leur renouveau. Ils en sont encore loin».
C´est la même chose, ici: notre gauche reste à réinventer, mais elle est encore loin.
HR
Trata-se, repito, do editorial do Le Monde, mas podia perfeitamente ser um editorial de um jornal português. Se tivesse sido escrito em português, claro.
«S´ils en doutaient, voilá donc les socialistes prévenus, à quelques jours de leur université d´été: la gauche reste à réinventer. Tout indique que la tâche sera rude tant l´opposition paraît, aujourd´hui, dispersée, morcelée, illisible, impuissante à réunir dans une dynamique commune le réalisme sans lequel elle ne peut espérer retrouver le chemin du pouvoir et les impatiences multiples de ce qu´il est convenu d´appeler le "mouvement social".
(...) les socialistes se doivent, selon la formule de Daniel Cohn-Bendit, d´"assumer leur réformisme sans désespérer le Larzac". C´est la condition de leur renouveau. Ils en sont encore loin».
C´est la même chose, ici: notre gauche reste à réinventer, mais elle est encore loin.
HR
domingo, outubro 26, 2003
O Pipi estava lá!
É tudo quanto sei. Não sei quem é. E nunca vi segredo mais bem guardado.
Mal cheguei fui encadeada pelos flashes da Caras, Vip?s, Olás, Oficina. Juro que não paguei nada aos fotógrafos. Será que me tomavam pela loira que chegou a seguir? Lá tirei a foto ao lado dos guardiões do segredo da identidade do PiPi; a Charlotte e o Nuno.
Fui apresentada ao McGuffin que me saiu com ar de puto (de resto percebi que isto de blogar é coisa de putos, ou de quem o quer ser, quem sabe não rejuvenesce?) e que veio de Évora, especialmente, para o lançamento do Pipi.
Graças ao Pedro Lomba, de semblante risonho, conheci o Comprometido Espectador, afinal, um professor da Nova que já tem discípulos bloggers, também presentes, e assim se explica porque me sentia, ao lê-lo, a aprender uma coisas sobre Médio Oriente, história e ciência política. Os amigos relativos, lá se apresentaram com semblante desanuviado mau grado as últimas trovoadas e só se queixaram do excesso de reuniões na agenda. Cruzei-me, ainda, com um dos gatos que, contrariando as minhas quase-certezas, me assegurou não ser ele o Pipi. Para o final da noite conheci No quinto dos Impérios que apesar de conservador, aprecia jazz e assisti a um belíssimo strip na companhia do Crítico e da Sofia. Dei, depois, uma boleia ao relativo FN até casa, à porta da qual tivémos acesa discussão sobre as vantagens/desvantagens do celibato. Isto, claro, porque a festa estava cheia de excelentes bloggers ao que tudo indica celibatários e que convido, desde já, a entrarem nas hostes do Desejocasar. CMC
Mal cheguei fui encadeada pelos flashes da Caras, Vip?s, Olás, Oficina. Juro que não paguei nada aos fotógrafos. Será que me tomavam pela loira que chegou a seguir? Lá tirei a foto ao lado dos guardiões do segredo da identidade do PiPi; a Charlotte e o Nuno.
Fui apresentada ao McGuffin que me saiu com ar de puto (de resto percebi que isto de blogar é coisa de putos, ou de quem o quer ser, quem sabe não rejuvenesce?) e que veio de Évora, especialmente, para o lançamento do Pipi.
Graças ao Pedro Lomba, de semblante risonho, conheci o Comprometido Espectador, afinal, um professor da Nova que já tem discípulos bloggers, também presentes, e assim se explica porque me sentia, ao lê-lo, a aprender uma coisas sobre Médio Oriente, história e ciência política. Os amigos relativos, lá se apresentaram com semblante desanuviado mau grado as últimas trovoadas e só se queixaram do excesso de reuniões na agenda. Cruzei-me, ainda, com um dos gatos que, contrariando as minhas quase-certezas, me assegurou não ser ele o Pipi. Para o final da noite conheci No quinto dos Impérios que apesar de conservador, aprecia jazz e assisti a um belíssimo strip na companhia do Crítico e da Sofia. Dei, depois, uma boleia ao relativo FN até casa, à porta da qual tivémos acesa discussão sobre as vantagens/desvantagens do celibato. Isto, claro, porque a festa estava cheia de excelentes bloggers ao que tudo indica celibatários e que convido, desde já, a entrarem nas hostes do Desejocasar. CMC
É preciso ter lata
Na semana que passou, vi o sorriso quase imaterial do Tiago, planando por cima do seu primeiro livro, "Para Onde Vão os Poemas Quando Morrem?". Assisti ao orgulho adolescente do Luís, na hora de apresentar este belo livro de poesia. Senti, ao telefone, o entusiasmo na voz do Pedro, ao contar mais do que uma vez ("já te contei isto?") que um dos seus poetas contemporâneos preferidos, com quem nunca falou, tinha acabado de lhe dedicar um poema. E li as palavras de satisfação do Luís Maria por, finalmente, fazer parte de um projecto que merece contar com o seu talento. Talvez estivesse mais de acordo com este tempo Outonal lembrar a música em que Brel fala da dor maior que é ver um amigo chorar. Mas, nesta última semana, vi os meus amigos felizes. Que chatice. Ainda por cima, felizes com coisas simples - tomados por uma alegria pura, de quem anda por aí a descobrir o mundo. NCS
o meu dna
Pedro Rolo Duarte não consegue largar o osso. Quem leu o DNa desta semana terá reparado que PRD regozijou com a sua "revelação". Alguém lhe disse, ou ele viu qualquer coisa e concluiu, que o Ricardo Araújo Pereira é o Pipi.
ponto prévio: o Pipi não me aquece nem arrefece. É, claramente, um excelente exercício de humor, uma performance de mestre. Sim. Mas também, mesmo para bastante razoáveis tarados sexuais como eu, é um processo que não se renova, limitado, redundante. Quantos exercícios de estilo originais pode alguém fazer sobre fellatios, afinal? Chiça!
Acho, por outro lado, que o autor - seja quem for - tem todo o direito de capitalizar a sua invenção. E o anonimato é parte óbvia do fascínio do Meu Pipi. PRD, para quem não se lembra, não tem sentido de humor nem auto-ironia suficientes para aguentar uma crítica ou uma piadola. E como o RAP fez ambas mereceu ser chamado de zé-ninguém cheio de raiva algures nos caracteres de PRD.
Agora, podemos discutir se isto é, ou não, um "furo"? É. Pelo menos no portugalzinho em que vivemos. Mas o DNa, este DNa, não dá notícias, não tem manchetes bombásticas nem reportagens de investigação. A maior notícia que poderemos esperar neste suplemento é a de que PRD já sabe grelhar bifanas ou comprou uma rede nova para a árvore da casa das churrascadas.
A ser verdade, isto não passou, pura e simplesmente, de inveja e vingança. Pobrezinhas, rasteirinhas. Como alguns genes que este senhor deve ter no seu dna. LFB
ponto prévio: o Pipi não me aquece nem arrefece. É, claramente, um excelente exercício de humor, uma performance de mestre. Sim. Mas também, mesmo para bastante razoáveis tarados sexuais como eu, é um processo que não se renova, limitado, redundante. Quantos exercícios de estilo originais pode alguém fazer sobre fellatios, afinal? Chiça!
Acho, por outro lado, que o autor - seja quem for - tem todo o direito de capitalizar a sua invenção. E o anonimato é parte óbvia do fascínio do Meu Pipi. PRD, para quem não se lembra, não tem sentido de humor nem auto-ironia suficientes para aguentar uma crítica ou uma piadola. E como o RAP fez ambas mereceu ser chamado de zé-ninguém cheio de raiva algures nos caracteres de PRD.
Agora, podemos discutir se isto é, ou não, um "furo"? É. Pelo menos no portugalzinho em que vivemos. Mas o DNa, este DNa, não dá notícias, não tem manchetes bombásticas nem reportagens de investigação. A maior notícia que poderemos esperar neste suplemento é a de que PRD já sabe grelhar bifanas ou comprou uma rede nova para a árvore da casa das churrascadas.
A ser verdade, isto não passou, pura e simplesmente, de inveja e vingança. Pobrezinhas, rasteirinhas. Como alguns genes que este senhor deve ter no seu dna. LFB