sábado, agosto 09, 2003
Desamores de Verão
Nunca gostei de separações. Em mim e nos outros. Ao longo do tempo, tenho visto muitos casais sólidos a desfazerem-se, muitas pessoas que nos habituámos a ver juntas e que nunca imaginaríamos separadas a acabarem, de um momento para o outro, com os seus relacionamentos de séculos e que todos pensavam eternos. Aliás, tenho visto mais gente dessa a extinguir laços do que aqueles que pareciam ter um maior desprendimento sobre as relações. Nestes primeiros dias de férias, ao cruzar-me com duas amigas dos tempos do liceu, ouvi histórias de separação. Em ambos os casos vindas de pessoas que mantinham relações “umbilicais” com os seus - num caso, um namorado; noutro, um marido. Nas duas conversas, a dada altura, perguntei pelo outro elemento do casal. Depois de pequeníssimas pausas, ouvi a mesma frase vinda das suas bocas: “ah, já não estamos juntos...”. É a vida. Sim, sabemos disso. Mas, em silêncio, tal como acontecia quando era pequeno e sabia de algum desastre amoroso, desejei que, um dia, voltassem uns para os outros. Como um velho romântico conservador. NCS
Scorpions nos Açores
Hoje à noite e com boas condições para assistir ao concerto: só são precisos 15 euros e doar sangue. HR
Mitos urbanos sobre os Açores
Todos os açorianos que chegam a Lisboa para estudar são metralhados com perguntas imbecis sobre a vivência do ilhéu: quantas ilhas são? Há rios? Vai-se a pé de uma ilha para outra ou de metro? É verdade que não há carros e as portas das casas não têm fechadura? Enfim, mas a melhor de todas foi inventada por um amigo que frequentava a Academia Militar. Um dia, ao ligar para a mãe, teve de esperar um bocado enquanto o pai a chamava. Um colega passou por ele e perguntou porque demorava tanto tempo a falar com a mãe. O meu amigo explicou: é que só há uma cabine telefónica na ilha, bem no centro. A primeira pessoa que passa, atende, e depois vai chamar o destinatário. Às vezes tenho sorte e apanho logo a minha mãe. Hoje não. LFB
O gótico lavadinho
Um dos grandes mistérios da humanidade, a par da importância dada a Prado Coelho na cultura portuguesa, é o da existência dos chamados “Góticos”. Vestem-se de preto, ouvem The Cure e Siouxsie & the Banshee 5 vezes ao dia, têm botas e cabelo hiperbólicos e alguns conhecem pessoas que praticam rituais de bruxaria em Sintra. Acreditem em mim, namorei com uma. Parece impossível mas despir uma gótica não é o mesmo que despir outra mulher qualquer. Não usam soutien mas sim uns corpetes com atilhos que fazem o cubo mágico parecer fácil e aquelas botas, Deus meu, antes deixá-las ficar a menos que possuam doses extra de Dove silk.
Porque insistem em existir? O Robert Smith foi magnífico mas tudo tem o seu tempo. O prazo de validade do baton, por exemplo. Portugal é um país quente e o preto conserva o calor. A maquilhagem dá trabalho, os piercings assustam o patrão, e até podem tomar banho duas vezes por dia que ninguém acredita. O que me lembra do dia em que essa namorada me contou do irmão:
“E é gótico também?”
“Sim… mas é lavadinho.”
Gótico lavadinho?! Percebi que devia terminar a relação logo ali. Um gótico lavadinho é como somar talento a Miguel Ângelo: não faz sentido. E uma namorada que torce o nariz, desdenhosa com a palavra “lavadinho”, também não. LFB
Porque insistem em existir? O Robert Smith foi magnífico mas tudo tem o seu tempo. O prazo de validade do baton, por exemplo. Portugal é um país quente e o preto conserva o calor. A maquilhagem dá trabalho, os piercings assustam o patrão, e até podem tomar banho duas vezes por dia que ninguém acredita. O que me lembra do dia em que essa namorada me contou do irmão:
“E é gótico também?”
“Sim… mas é lavadinho.”
Gótico lavadinho?! Percebi que devia terminar a relação logo ali. Um gótico lavadinho é como somar talento a Miguel Ângelo: não faz sentido. E uma namorada que torce o nariz, desdenhosa com a palavra “lavadinho”, também não. LFB
sexta-feira, agosto 08, 2003
O país deve arder
A tragédia de ser português tem fundamento no seguinte: até os nossos incendiários são maus. Um país com tanta coisa à mão de incendiar e eles vão atacar as florestas? Um país com o Toy e o Sousa Lara, com o Largo do Caldas e Boliqueime, com o João Pereira Coutinho e a TV Guia, com o Parque Mayer e o Palácio de S. Bento, com as Mulheres de Bragança e o Artur Albarran, com a Quinta do Lago e os estádios do Euro, com tanto material combustível e deitam-se às florestas?
O país deve arder, mas estão a queimar as coisas erradas. O Portugal que deve arder não tem árvores. No Portugal que deve arder não há nada tão vertical como uma árvore. TR
O país deve arder, mas estão a queimar as coisas erradas. O Portugal que deve arder não tem árvores. No Portugal que deve arder não há nada tão vertical como uma árvore. TR
Pede-se o favor de não dizer mais vez nenhuma qualquer uma das seguintes frases:
1. O estádio do Sporting parece uma casa de banho! He! He!
2. E eu pergunto: onde é que estão os outros trinta e tal mil bombeiros?
3. O livro do Sousa Tavares é que é muito bom. Li-o num instantinho!
4. Gostava de ir a Cuba antes de o Fidel morrer.
5. O Papa devia era abdicar.
6. Até que enfim que ninguém está acima da Lei!
7. Não tenho religião, mas simpatizo muito com o Budismo.
8. Os blogues são um exercício umbiguista.
9. Vejo pouca televisão, mas o meu canal preferido é a RTP2.
10. O Verão é a silly season.
11. Qualquer dia, isto é tudo espanhol…
12. Tenho tido pouco tempo para ir ao cinema, mas, dos últimos filmes, gostei muito do “Fala Com Ela.”
AB
2. E eu pergunto: onde é que estão os outros trinta e tal mil bombeiros?
3. O livro do Sousa Tavares é que é muito bom. Li-o num instantinho!
4. Gostava de ir a Cuba antes de o Fidel morrer.
5. O Papa devia era abdicar.
6. Até que enfim que ninguém está acima da Lei!
7. Não tenho religião, mas simpatizo muito com o Budismo.
8. Os blogues são um exercício umbiguista.
9. Vejo pouca televisão, mas o meu canal preferido é a RTP2.
10. O Verão é a silly season.
11. Qualquer dia, isto é tudo espanhol…
12. Tenho tido pouco tempo para ir ao cinema, mas, dos últimos filmes, gostei muito do “Fala Com Ela.”
AB
Ser católico praticante
Desde há muito que está na moda dizer-se que se é católico não praticante. Ora bem, um católico não praticante vale tanto como um benfiquista não praticante, um juiz não praticante ou, já agora, um judeu não praticante. É um ridículo paradigma para a preguiça. Praticar implica uma série de regras, a mais comum das quais é a frequência das cerimónias religiosas. Hoje fico-me pelo jejum pascoal e pela oração. Já fui praticante agora diria que me considero um católico progressista. Porque me faz pouca ou nenhuma diferença que Maria fosse virgem ou não, que Cristo tenha vivido até aos 33 na mesma condição. Porque me faz confusão a opulência do Vaticano e o direito canónico. Mas sobretudo porque se me visse obrigado a guardar abstinência até ao matrimónio, este blog não se chamava Desejo Casar mas sim Desejo outra coisa com 5 letras. LFB
Ode a Pedro Tochas
Dizem-me que ganhou o prémio “Clown of the Year”, e não é piada – parece que a coisa é importante. Foi o primeiro a propagar o stand-up comedy entre nós (à portuguesa, claro). E tenho de dar a mão à palmatória: o homem fez isto tudo e ainda conseguiu trabalhar com Maria Rueff, fazer anúncios e colaborar no “Curto Circuito”. É muito e notável para um indivíduo cujo maior talento está no cabelo. LFB
quinta-feira, agosto 07, 2003
Salvos por uma onda
O ano inteiro a suarmos como homenzinhos debaixo de prazos e expectativas, a espalharmos a angústia pelas agendas, a congestionarmos ainda mais o trânsito com insultos de algibeira. O ano todo a levarmo-nos muito a sério no trabalho e nas relações para acabarmos a sentir a alegria infantil de apanhar uma onda numa tarde de Agosto. NCS
Desnecessário Post, estando sol
faz mais sentido na vida ir à praia. Acabada a ultima reunião, cá estou, na mansarda da casa dos meus pais em S. Miguel. Lá fora o sol cobre de luz toda a costa sul desta ilha (uma dança, entre o verde da montanha e o sussurro azul deste mar). Na praia de água d'alto estará magnífico, o Nuno aproxima-se com o seu carro e em dois minutos estaremos a ouvir guitarradas insolentes entre a indolência das curvas optimistas. Praia, lá tentarei esquecer, por momentos, a encomenda de mais duas capelas, por uma questão moral, é que saltamos para a água de uma forma quase pecaminosa, certos no aplacar deste calor e no rerun dos encontros casuais com os amigos e com a infância escondida. BR
Onde podemos adquirir uma t-shirt com a frase “EU NUNCA LI A RECHERCHE”?
Dizem-me que a NTV está melhor e eu vou espreitar. Apanho a meio o novo programa de Francisco José Viegas; esta edição é sobre policiais. Confirmo as impressões dos meus amigos, pelo menos, nas noites de terça-feira. A espontaneidade com que o programa é apresentado, aliada ao facto de não trazer à cena os suspeitos do costume, justificam, de pronto, a obrigatoriedade de o acompanhar o mais possível. A cereja no topo do bolo chega no final: rodeado de escritores, Francisco tem a coragem de dizer, tranquilamente e sem que ninguém lhe pergunte, que nunca leu a Recherche… O silêncio em volta dura dois segundos. Juro que o coração me parou pelo mesmo período – fiquei com receio da reacção, como quem vê um filme e teme que o bom seja caçado pelos maus. Logo, o apresentador prossegue, com a mesma serenidade, dizendo estar a aproveitar a tradução de Tamen para, finalmente, ler Proust. Que momento! Um intelectual capaz de tal confissão! Sempre que digo que guardo Em Busca Do Tempo Perdido, assim como todas as obras em volumes, para a minha velhice, sou olhado de lado. Agora, o Francisco salvou-me. Sei que já o está a ler e já vai no segundo volume, mas eu vi a adaptação cinematográfica de Raoul Ruiz do último volume e, portanto, sei como acaba… Tomamos um café, contamos um ao outro o que sabemos e fingimos que é nosso livro preferido?
AB
AB
Reflexo condicionado
Estou no meu gabinete na Faculdade, rodeado de papéis e livros abertos a transbordar de post-its amarelos. Visto assim, de longe, da porta, parece uma imagem civilizada. Não escrevo estas frases pedantes para me vangloriar masoquisticamente perante os meus amigos do meu Agosto novecentista em Lisboa: estou aqui por uma razão simples - ar condicionado. Aquilo que a minha casa não tem, mas que a próxima vai ter. Prometo a mim próprio.
Ontem tinha vindo para aqui de calções. Encontrei no bar três colegas com ar conspirativo que se escandalizaram com isso. Eu comi uma sandes de fiambre na faculdade e estava de calções. Os civilistas do século XIX com quem passei a tarde não se importaram. É assim que se arruínam carreiras académicas em Portugal antes delas começarem.
Na alameda em frente à Faculdade, há uma tenda enorme cheia de criancinhas. Quando entrei, cantavam em inglês e em português ao mesmo tempo. Não faço ideia do que seja. Pode ser que alguém esteja a fazer uma curta-metragem. MR
Ontem tinha vindo para aqui de calções. Encontrei no bar três colegas com ar conspirativo que se escandalizaram com isso. Eu comi uma sandes de fiambre na faculdade e estava de calções. Os civilistas do século XIX com quem passei a tarde não se importaram. É assim que se arruínam carreiras académicas em Portugal antes delas começarem.
Na alameda em frente à Faculdade, há uma tenda enorme cheia de criancinhas. Quando entrei, cantavam em inglês e em português ao mesmo tempo. Não faço ideia do que seja. Pode ser que alguém esteja a fazer uma curta-metragem. MR
rapidinha literária
Li hoje "Cinco Dias, Cinco Noites" de Manuel Tiago, a.k.a. Álvaro Cunhal. Lembrei-me da surpresa agradável que foi a adaptação cinematográfica homónima por José Fonseca e Costa, e ocorreu-me esta curiosidade: deve ser o primeiro caso na história das adaptações de obras literárias para cinema em que se perde menos tempo com o livro do que com o filme. LFB
o que têm em comum Fernando Tordo e os Scorpions?
Fico a saber por amigos que os Scorpions vêm à ilha Terceira dar um concerto nas Festas da Praia da Vitória. Sim, os Scorpions. Uma banda de alemães pseudo hard-rock lamechas a precisar de transplantes, implantes e corantes. Conhecendo a devoção que os açorianos têm pela borga e o estranho culto que este grupo tem em Portugal, imagino que estarão pelo menos 2/3 da ilha presentes no evento. O que dá mais de 40000 pessoas. Não se admirem. Verdadeiro X-file foi um concerto de Paco Bandeira em Angra do Heroísmo que, reza a lenda, tinha 50000 espectadores. Enfim, é nestes considerandos que me lembro de um record Guiness bem português. Há cerca de 15 anos o inefável Fernando Tordo conseguiu actuar perante 99,9% da população do local do concerto. Foi na ilha do Corvo com os seus 360 habitantes e a mulher do presidente da junta ficou em casa com gripe. LFB
quarta-feira, agosto 06, 2003
Acontece…
Nos últimos dias, as inboxes são inundadas com mails a convidar a abaixo-assinados pedindo o regresso do “Acontece”. Porquê? – pergunto – já não bastavam os “enlarge your pennis”? Todos sabemos que o programa não era, sequer, um dos dez mais vistos da RTP2, há anos que não oiço alguém comentar “vi (não sei o quê) no ‘Acontece’ ou “o Carlos Pinto Coelho tem toda a razão quando diz que” ou a simples advertência para “não percas o ‘Acontece’ de hoje porque”. Nada. Já quase ninguém via o programa, era demasiado caro para aquilo que dava e, em matéria de magazines culturais, digam lá o que disserem, a “Sociedade Das Belas Artes” é muito melhor porque mais informativo, mais completo e mais barato.
Gostaria de saber há quanto tempo viu cada uma destas pessoas que “abaixo-assinam” o último “Acontece” completo, porque me cheira, tresanda, aliás, ao moralismo cultural do costume. De resto, se a questão é a necessidade de “enlarge your brain”, o melhor é mesmo comprar livros e lê-los, não ficar de sofá a ver programas sobre sinopses de contracapa. AB
Gostaria de saber há quanto tempo viu cada uma destas pessoas que “abaixo-assinam” o último “Acontece” completo, porque me cheira, tresanda, aliás, ao moralismo cultural do costume. De resto, se a questão é a necessidade de “enlarge your brain”, o melhor é mesmo comprar livros e lê-los, não ficar de sofá a ver programas sobre sinopses de contracapa. AB
O dia em que o Cartão Jovem foi para o lixo
Os meus pais não se lembram se nasci a um quarto para as 3 ou às 3 e um quarto - o que me lixa o ascendente astral - mas uma coisa é certa: passaram ontem 26 anos desde esse dia.
Quando fiz 17 escrevi uma crónica para um jornal açoriano intitulada "Os Gajos Grandes". Era assim que os miúdos do liceu de Angra, entre o 7º e o 9º ano, chamavam aos que frequentavam os anos acima, ao mesmo tempo que nos expulsavam dos campos de futebol e ficavam com as miúdas todas. Essa crónica era sobre o meu aniversário, que coincidiu com o primeiro dia em que me trataram por "senhor".
O meu avô materno, que está trancado na sua própria casa porque assim decidiu, à espera da morte mas temendo o seu sopro, com instruções para que as janelas permaneçam trancadas, dizia-me constantemente que eu ia ser um "senhor". E para ser um senhor era necessário que aprendesse a fazer contas. Primeiro as contas da matemática e depois as contas à vida. No seu quartinho do tamanho de uma dispensa, onde não vai há meses porque já não consegue sentar-se naquele espaço desconfortável, ensinava-me a somar e a subtrair nos papéis de deve e haver da empresa para a qual fazia contabilidade. Nos intervalos, desmontávamos rádios. O seu hobby eram os aparelhos electrónicos, que desfazia e refazia com precisão de relojoeiro. Em miúdo, cheguei a ser tratado como digno descendente do "engenhocas" mas entretanto, com o passar dos anos, perdi a perícia e já não sei reinventar um rádio a partir das peças avulsas de outros rádios. Mas não deixei de fazer contas.
Ontem dediquei-me às contas da vida. Escrevi nalgumas folhas de papel o calendário para os meus próximos 3, 4 anos, salvaguardadas as surpresas, e decorei-as logo depois porque sei que as vou perder. Contei os telefonemas e mensagens de amigos. Não faltou nenhum dos íntimos. Ri-me com o Joel Neto e com o Luís Osório, partilhei tarefas de férias com o Nuno Costa Santos, abracei o meu irmão por telefone, recebi a ternura do Hugo Rosa, ouvi atentamente duas ex-namoradas em pleno instinto maternal. Para fechar o livro dos 25 anos, li o que me faltava ler de Oscar Wilde; por prazer e formação profissional devorei a Ficções dedicada ao Humor, e escrevi um poema que deitei fora juntamente com o Cartão Jovem.
Terminado tudo isto, acendi um Beldina perfeito, bebi um Jameson e dediquei-me à audição de David Gray, Lloyd Cole, Carla Bruni, Titãs e Mew - as minhas bandas sonoras de Verão. Senti-me em paz. E saí de casa para um jantar tardio com os meus pais, perfumado como um bebé prestes a ser baptizado.
Como escreveu o NCS, há dias em que nos esquecemos que vamos morrer. Não penso nisso, ainda, porque não sou um gajo grande. Não sou um "senhor". E gostava tanto, avô, que não morresses sem desmontar comigo o rádio que está no meu quarto desde o tempo em que me chamavam "engenhocas" e 2 + 2 era sempre igual a 4. LFB
Quando fiz 17 escrevi uma crónica para um jornal açoriano intitulada "Os Gajos Grandes". Era assim que os miúdos do liceu de Angra, entre o 7º e o 9º ano, chamavam aos que frequentavam os anos acima, ao mesmo tempo que nos expulsavam dos campos de futebol e ficavam com as miúdas todas. Essa crónica era sobre o meu aniversário, que coincidiu com o primeiro dia em que me trataram por "senhor".
O meu avô materno, que está trancado na sua própria casa porque assim decidiu, à espera da morte mas temendo o seu sopro, com instruções para que as janelas permaneçam trancadas, dizia-me constantemente que eu ia ser um "senhor". E para ser um senhor era necessário que aprendesse a fazer contas. Primeiro as contas da matemática e depois as contas à vida. No seu quartinho do tamanho de uma dispensa, onde não vai há meses porque já não consegue sentar-se naquele espaço desconfortável, ensinava-me a somar e a subtrair nos papéis de deve e haver da empresa para a qual fazia contabilidade. Nos intervalos, desmontávamos rádios. O seu hobby eram os aparelhos electrónicos, que desfazia e refazia com precisão de relojoeiro. Em miúdo, cheguei a ser tratado como digno descendente do "engenhocas" mas entretanto, com o passar dos anos, perdi a perícia e já não sei reinventar um rádio a partir das peças avulsas de outros rádios. Mas não deixei de fazer contas.
Ontem dediquei-me às contas da vida. Escrevi nalgumas folhas de papel o calendário para os meus próximos 3, 4 anos, salvaguardadas as surpresas, e decorei-as logo depois porque sei que as vou perder. Contei os telefonemas e mensagens de amigos. Não faltou nenhum dos íntimos. Ri-me com o Joel Neto e com o Luís Osório, partilhei tarefas de férias com o Nuno Costa Santos, abracei o meu irmão por telefone, recebi a ternura do Hugo Rosa, ouvi atentamente duas ex-namoradas em pleno instinto maternal. Para fechar o livro dos 25 anos, li o que me faltava ler de Oscar Wilde; por prazer e formação profissional devorei a Ficções dedicada ao Humor, e escrevi um poema que deitei fora juntamente com o Cartão Jovem.
Terminado tudo isto, acendi um Beldina perfeito, bebi um Jameson e dediquei-me à audição de David Gray, Lloyd Cole, Carla Bruni, Titãs e Mew - as minhas bandas sonoras de Verão. Senti-me em paz. E saí de casa para um jantar tardio com os meus pais, perfumado como um bebé prestes a ser baptizado.
Como escreveu o NCS, há dias em que nos esquecemos que vamos morrer. Não penso nisso, ainda, porque não sou um gajo grande. Não sou um "senhor". E gostava tanto, avô, que não morresses sem desmontar comigo o rádio que está no meu quarto desde o tempo em que me chamavam "engenhocas" e 2 + 2 era sempre igual a 4. LFB
Pela migalha de ouro, obrigado Origem do Amor
Quando era adolescente (o mesmo que dizer: até às 24 horas de ontem) tinha um sonho recorrente. Eu e os meus melhores amigos atravessávamos o tapete vermelho do Royal Albert Hall - ou edifício do género - para a cerimónia dos Óscares. Lá dentro ganhávamos todos: um era o melhor actor, outro o melhor actor secundário, nas actrizes a mesma coisa, argumentista, realizador, idem aspas e, claro, o filme do ano era nosso. Depois cresci e percebi que os americanos premeiam os americanos. Enfim, resta-nos a categoria de Melhor Filme Estrangeiro. Enquanto não chegamos lá, é tempo de agradecer a simpatia e a dedicação do blog do título, que se lançou na tarefa de realizar os primeiros BLÓSCARES. Não conheço o processo mas fico feliz e agradecido por terem atribuído ao DC a Migalha de Ouro. Todos os prémios são, antes de mais, simbólicos. E é graças à pequenina dose de mitologia contida nos símbolos que estes sabem tão bem.
Obrigado e, se me permitem, deixem-me partilhar a honra, ex-aequo, com a seguinte lista de personal favourites:
Aviz
Blog-de-Esquerda
Dicionário do Diabo
Flor de Obsessão
Gato Fedorento
País Relativo
LFB
Obrigado e, se me permitem, deixem-me partilhar a honra, ex-aequo, com a seguinte lista de personal favourites:
Aviz
Blog-de-Esquerda
Dicionário do Diabo
Flor de Obsessão
Gato Fedorento
País Relativo
LFB
DE COMO CERTOS NHURROS INSULTAM O CONSERVADORISMO
Exaspera-me a grunhice pseudo-conservadora dos que julgam que merece vida eterna e inalterada o quadro do mundo que vigorava à data do nascimento deles.
Aflige-me terrivelmente a cretinice densa e pseudo-direitista dos que pensam que o produto de certas convenções (socialmente datadas, como todas as convenções) como que se insere na mobília do mundo e passa a pertencer ao que “é assim” e ao que não pode deixar de “ser” assim.
Ora o senhor George W., num desses espasmos de coisificação, explicou ao mundo que, como é “conservador”, não pode deixar de se bater pela proibição do “gay marriage”.
Say it with me: que vá para o “dildo” que o carregue! LDA
Aflige-me terrivelmente a cretinice densa e pseudo-direitista dos que pensam que o produto de certas convenções (socialmente datadas, como todas as convenções) como que se insere na mobília do mundo e passa a pertencer ao que “é assim” e ao que não pode deixar de “ser” assim.
Ora o senhor George W., num desses espasmos de coisificação, explicou ao mundo que, como é “conservador”, não pode deixar de se bater pela proibição do “gay marriage”.
Say it with me: que vá para o “dildo” que o carregue! LDA
Às vezes, no Verão, julgamos que nunca vamos morrer
O Pedro Adão e Silva já escreveu sobre esses regressos a casa, depois da praia - sobre esses regressos de carro rodeados de música. Tal como o Pedro, sempre tive a mania de, no início das férias, gravar numa cassete uma série de canções. Cada Verão tem a sua banda sonora. Para este Verão gravei uma que mistura nostalgia (Ian Mcculloch, Teenage Fanclub), novos brasileiros (Ed Motta, Lenine, etc.) e a leveza dos portugueses Loop Less. Desde o fim da adolescência, os meus Verões têm sido musicados por gente muito diversa. Lembro-me, por exemplo, de algumas compilações do “Indie Top”. Dos Auteurs, dos Suede, dos Pulp, dos Gene (quantas vezes ouvi o “Olympia” pelas estradas da minha ilha). Há coisas que não mudam: a ida para a praia pede guitarras alegres e refrões cantaroláveis. O regresso baladas, músicas mais ou menos etéreas e cheias de sonhos. Entre árvores e vistas para as últimas ondas, a vida parece-nos simples, feliz e esquecemo-nos por uns momentos de que, um dia, deixaremos de poder voltar para casa. NCS
Estranha forma de entrar em férias
Hora de partir. Meti-me num táxi em direcção ao aeroporto. Encontrei um primo na bicha para o check-in. Li um livro de crónicas durante a viagem. Tinha o meu avô à espera e fiz uma visita à sua casa em obras. Fui dar um beijo aos meus pais – que estavam, no calor da tarde, a trabalhar. Telefonei ao Bernardo – por aqui, felizmente, numa série de reuniões - para irmos dar um mergulho à praia. Mas foi dentro de água, ao sacudir um polvo que havia envolvido, como um saco de plástico, a minha perna direita, que percebi que tinha entrado em férias. NCS
terça-feira, agosto 05, 2003
invariabilidade
querer acabar o dia sem uma palavra
sem um som
sem um corpo a quem dizer
anoitece em paz
dorme por entre as minhas mãos
esta é a verdade que se esquece
como um conto de crianças ajoelhado
à minha cama.
MR
sem um som
sem um corpo a quem dizer
anoitece em paz
dorme por entre as minhas mãos
esta é a verdade que se esquece
como um conto de crianças ajoelhado
à minha cama.
MR
O preço justo
João Pulido Valente, que não conheço, médico, militante antifascista e fundador da UDP, morreu ontem. Segundo o DN, escreveu, antes de morrer
Eu, João Pulido Valente, informo os meus Amigos que morri hoje, 4 de Agosto de 2003, de manhãzinha.
Convivi com ideias, mulheres, tabaco e álcool.
Contraí cadeia, sífilis, cancro e ressacas.
Não estou arrependido.
Julgo ter pago o preço justo por ter vivido.
Quanto eu morrer não quero choro nem velas, quero uma fita amarela,
gravada com o nome dela:
Liberdade.
E mais para quê?
E quem gostaria de menos? MR
Eu, João Pulido Valente, informo os meus Amigos que morri hoje, 4 de Agosto de 2003, de manhãzinha.
Convivi com ideias, mulheres, tabaco e álcool.
Contraí cadeia, sífilis, cancro e ressacas.
Não estou arrependido.
Julgo ter pago o preço justo por ter vivido.
Quanto eu morrer não quero choro nem velas, quero uma fita amarela,
gravada com o nome dela:
Liberdade.
E mais para quê?
E quem gostaria de menos? MR
O cúmulo do onanismo
"Fiquemos hoje pelo blogue. Ele corresponde à criação de espaços na Internet onde uma pessoa ou um grupo de pessoas se sente autorizado a escrever sobre todos os assuntos que lhe interessarem.
(...)
Toda a questão está no autor do blogue "sentir-se autorizado a"."
Eduardo Prado Coelho, citando-se a si próprio - in "Público", 31 de Julho. LFB
(...)
Toda a questão está no autor do blogue "sentir-se autorizado a"."
Eduardo Prado Coelho, citando-se a si próprio - in "Público", 31 de Julho. LFB
a minha tia casadoira
A minha tia mais nova é bonita, saída da casca e... enfermeira. Vou agora deixar uma linha em branco para dar espaço à fantasia sexual dos leitores.
Ok. Infelizmente não é de lascívia este post. Acontece que a minha tia Anabela é uma casamenteira profissional que, sempre que nos encontramos, tenta arranjar maneira de me pôr a ouvir a Marcha Nupcial. Fá-lo como se não houvesse amanhã. Desta vez conta-me uma promissora história sobre a sua amiga Helena, 33 anos, moreníssima de olhos negros, solteira e... enfermeira. Já prestes a ter a apoplexia sou surpreendido pela fotografia da amiga que a minha tia tira da carteira. "Então?" - diz ela esperançada.
"Bem... se a beleza pagasse imposto, esta senhora era um paraíso fiscal". LFB
Ok. Infelizmente não é de lascívia este post. Acontece que a minha tia Anabela é uma casamenteira profissional que, sempre que nos encontramos, tenta arranjar maneira de me pôr a ouvir a Marcha Nupcial. Fá-lo como se não houvesse amanhã. Desta vez conta-me uma promissora história sobre a sua amiga Helena, 33 anos, moreníssima de olhos negros, solteira e... enfermeira. Já prestes a ter a apoplexia sou surpreendido pela fotografia da amiga que a minha tia tira da carteira. "Então?" - diz ela esperançada.
"Bem... se a beleza pagasse imposto, esta senhora era um paraíso fiscal". LFB
correio dos leitores
Mais uma carta que vale a pena publicar, até por se tratar de uma indignação sincera para com o drama nacional do momento:
"Será desta vez que Portugal acorda para o flagelo anual dos incêndios florestais? Para a perda vil e cobarde de vidas (sim porque os animais e a floresta também são organismos vivos!) Este ano infelizmente a perda de vidas até já essa barreira quebrou, ceifa vidas de anónimos, pessoas que lutaram uma vida inteira por um pedaço de chão, uma horta, um pinhal, uma casa... E tudo a troco de quê?!
Será que vamos finalmente acordar para a realidade da morte lenta do nosso património ambiental tão fundamental ao sustento daqueles que o cultivam como também para todos os outros? Porque todos temos de respirar, de comer, de passar os olhos por obras de arte como a Natureza para sobreviver às pressões do dia-a-dia!
Será desta que os portugueses saem da letargia dos últimos tempos e recuperam alguma daquela alegria e vivacidade do 25 de Abril e lutam com seriedade e insistência por um país melhor?
Sim, este ano o calor e os ventos têm sido os nossos piores inimigos mas só porque os primeiros causadores dos incêndios - a negligência, os interesses económicos e a maldade - vagueiam impunes por aí!
Pergunto-me, onde estão as medidas de reflorestação? De interdição à caça? De protecção à fauna e à flora que saem quase completamente dizimadas destes mares de chamas? E as medidas de penalização para os responsáveis - morais e materiais - destes flagelos? Onde estão indivíduos que anualmente a Judiciária prende por suspeita de fogo posto? Em que gaveta ficam os fundos que deviam ser seriamente investidos em equipamento e especialização para os operacionais que combatem estes monstros de destruição?
Quanto mais será preciso perder para as promessas eleitorais serem levadas a bom porto?
Apesar de tudo resta-me a esperança, vamos ver se essa também não acabará por morrer..."
Dulce Figueiredo
"Será desta vez que Portugal acorda para o flagelo anual dos incêndios florestais? Para a perda vil e cobarde de vidas (sim porque os animais e a floresta também são organismos vivos!) Este ano infelizmente a perda de vidas até já essa barreira quebrou, ceifa vidas de anónimos, pessoas que lutaram uma vida inteira por um pedaço de chão, uma horta, um pinhal, uma casa... E tudo a troco de quê?!
Será que vamos finalmente acordar para a realidade da morte lenta do nosso património ambiental tão fundamental ao sustento daqueles que o cultivam como também para todos os outros? Porque todos temos de respirar, de comer, de passar os olhos por obras de arte como a Natureza para sobreviver às pressões do dia-a-dia!
Será desta que os portugueses saem da letargia dos últimos tempos e recuperam alguma daquela alegria e vivacidade do 25 de Abril e lutam com seriedade e insistência por um país melhor?
Sim, este ano o calor e os ventos têm sido os nossos piores inimigos mas só porque os primeiros causadores dos incêndios - a negligência, os interesses económicos e a maldade - vagueiam impunes por aí!
Pergunto-me, onde estão as medidas de reflorestação? De interdição à caça? De protecção à fauna e à flora que saem quase completamente dizimadas destes mares de chamas? E as medidas de penalização para os responsáveis - morais e materiais - destes flagelos? Onde estão indivíduos que anualmente a Judiciária prende por suspeita de fogo posto? Em que gaveta ficam os fundos que deviam ser seriamente investidos em equipamento e especialização para os operacionais que combatem estes monstros de destruição?
Quanto mais será preciso perder para as promessas eleitorais serem levadas a bom porto?
Apesar de tudo resta-me a esperança, vamos ver se essa também não acabará por morrer..."
Dulce Figueiredo
segunda-feira, agosto 04, 2003
o nosso pensamento não tem juiz
Aeroporto de Lisboa, 4 da manhã. Semi-deserto. Um homem começa a gritar. Vou ver o que se passa. É espancado por um polícia. "Porque é que lhe está a bater?!" - e o polícia, numa pausa breve, responde: "Este merdas acabou de apalpar aquela menina". Só então noto que, encostada a uma mala com 3 vezes o seu tamanho, uma criança de 7, 8 anos chora, sem parentes à vista. Ruborizado pela minha atitude agressiva para com o polícia continuo a andar sem ser capaz de lhe dizer mais nada. E, escutando os gritos contínuos do homem, já com o check-in à vista, cerro os olhos, ponho-me no lugar do polícia e arrebento-lhe a boca com um pontapé. LFB
domingo, agosto 03, 2003
O País dos logotipos está a arder
Afinal, somos tão terceiro-mundistas como desconfiávamos. O País arde, paulatinamente, ao desejo das chamas. As árvores ardem. As casas ardem. Os animais ardem. As pessoas ardem.
Parece que não há bombeiros, não há veículos, não há aviões suficientes... Parece que há uma "conjugação de factores negativos", diz o Ministro da Adminitração Interna, o mesmo que inaugurou logotipos e se esqueceu dos serviços para os usar, a acreditar na imprensa escrita de ontem. Há um "novíssimo" Serviço de Protecção Civil e Bombeiros que, aparentemente, é um logotipo vazio, como todos os que este Governo criou num ano apenas. Logotipos novos, para o vácuo de competência e direcção que pôs em quase tudo o que fez. Os bombeiros sofrem e morrem. Mereciam melhores políticos.
O Ministro da Defesa está na "festa laranja", onde se abana e conversa calmamente, onde se deixa fotografar ao lado dos transexuais da moda. Devia era ir para a festa laranja das chamas, com os seus militares. Mas isso é pior que as feiras, porque ali é a sério. Parece que há 380 militares a combater as chamas. Não sei porquê, mas parece pouco.
O Primeiro Ministro está ausente, não se sabe dele. Não manda, não fala, não serve. Apesar da situação anormal, parece que ninguém estava à espera e que ninguém sabe bem o que fazer. Os autarcas queixam-se. O ministro queixa-se. Os bombeiros queixam-se. As populações ardem. Se são precisos voluntários, para fazer um trabalho útil e eficaz, digam, que eu vou já. MR
Parece que não há bombeiros, não há veículos, não há aviões suficientes... Parece que há uma "conjugação de factores negativos", diz o Ministro da Adminitração Interna, o mesmo que inaugurou logotipos e se esqueceu dos serviços para os usar, a acreditar na imprensa escrita de ontem. Há um "novíssimo" Serviço de Protecção Civil e Bombeiros que, aparentemente, é um logotipo vazio, como todos os que este Governo criou num ano apenas. Logotipos novos, para o vácuo de competência e direcção que pôs em quase tudo o que fez. Os bombeiros sofrem e morrem. Mereciam melhores políticos.
O Ministro da Defesa está na "festa laranja", onde se abana e conversa calmamente, onde se deixa fotografar ao lado dos transexuais da moda. Devia era ir para a festa laranja das chamas, com os seus militares. Mas isso é pior que as feiras, porque ali é a sério. Parece que há 380 militares a combater as chamas. Não sei porquê, mas parece pouco.
O Primeiro Ministro está ausente, não se sabe dele. Não manda, não fala, não serve. Apesar da situação anormal, parece que ninguém estava à espera e que ninguém sabe bem o que fazer. Os autarcas queixam-se. O ministro queixa-se. Os bombeiros queixam-se. As populações ardem. Se são precisos voluntários, para fazer um trabalho útil e eficaz, digam, que eu vou já. MR
Adolescência revisited (verão sempre azul)
Na lagoa das Sete Cidades as festas eram longamente planeadas ao longo da tarde, na casa do Zé, um pequeno Shed mesmo ao lado da lagoa, no fim da Vila. Ao fim dos churrascos e da futebolada, da música e dos enganos amorosos lá ficávamos, resistentes, bêbados profusos. Invariavelmente levávamos os pequenos barcos, um de madeira outro de fibra de vidro, para a lagoa grande e consoante as batalhas, as bebidas e as músicas acompanhavam, aplacadas pelo céu vertiginoso de estrelas e sono. Eram noites de guerrilha no tabuleiro da cratera, dos barcos voavam remos e perseguições, ao J. Decq e ao André, à península, à ponte...trilha sonora dos Slowdive e dos Pale Saints, ou Test Department e Diamanda Galas consoante a direcção da fúria e das escaladas a Gin e Gritaria...
Na lagoa das Furnas era outra a encenação, com o Zé Burns (dono da casa) e o Nuno (NCS), tardes de leitura e jazz, o começo da electrónica e noites de Cabíria (tinham todas este nome, as namoradas que lá vinham). Tínhamos a visita dos donos da Cervejaria Cascata, com carrinhas de marisco e tirador de cerveja, a mais fresca das ilhas. Em tardes de futebol íamos para o campo junto aos cozidos. Lá era montado o tirador de cerveja como 4º árbitro e jogávamos de copo de fino na mão a berrar com o Fernando, o dono; Ema, eese tê filhe nãm passa a boula..., ao que respondia com carolos ao miúdo; Ehhh Fábie, Pássa a boula ó senhóooo...Tá na América, o rapaz, o Fábio a lutar pela vida, a fazer-se um Homem, diz-nos o Fernando sempre que paramos na Cascata em frente à sé da Ribeira Grande, para umas Lapas grelhadas entre as cambalhotas tirolesas do Liberal. Acabava sempre um estirado em cima do balcão a beber do tirador, entre lições de catecismo ao minhoca pela filha do Senhor Armindo, que já vai na terceira classe e duas visitas à tia no Canadá. Azores dixit. BR
Na lagoa das Furnas era outra a encenação, com o Zé Burns (dono da casa) e o Nuno (NCS), tardes de leitura e jazz, o começo da electrónica e noites de Cabíria (tinham todas este nome, as namoradas que lá vinham). Tínhamos a visita dos donos da Cervejaria Cascata, com carrinhas de marisco e tirador de cerveja, a mais fresca das ilhas. Em tardes de futebol íamos para o campo junto aos cozidos. Lá era montado o tirador de cerveja como 4º árbitro e jogávamos de copo de fino na mão a berrar com o Fernando, o dono; Ema, eese tê filhe nãm passa a boula..., ao que respondia com carolos ao miúdo; Ehhh Fábie, Pássa a boula ó senhóooo...Tá na América, o rapaz, o Fábio a lutar pela vida, a fazer-se um Homem, diz-nos o Fernando sempre que paramos na Cascata em frente à sé da Ribeira Grande, para umas Lapas grelhadas entre as cambalhotas tirolesas do Liberal. Acabava sempre um estirado em cima do balcão a beber do tirador, entre lições de catecismo ao minhoca pela filha do Senhor Armindo, que já vai na terceira classe e duas visitas à tia no Canadá. Azores dixit. BR